tudo o que ouvimos nos aflige; as conversas sobre assuntos indiferentes irritam-nos; se nos tentam alentar com esperanças, revoltamo-nos contra elas; se procuram preparar-nos para um desengano, prevenindo-o, repelimos com energia a ideia dele. O silêncio não nos é mais agradável; as apreensões ganham corpo no meio dele; falam os pressentimentos do mal. Tentamos sorrir, gela-se-nos o sorriso nos lábios. A quietação é-nos tão intolerável como o movimento. Ansiamos sair da incerteza, e de cada indivíduo que chega, trememos de saber a nova fatal. Vai mais longe o efeito moral deste estado de espírito; chegamos quase a querer mal a todos quantos estão assistindo naquele momento à decisão lenta da sorte. O nosso egoísmo, exacerbado em tais momentos, irrita-se com a ideia de que os nossos amigos tenham coração para assistir àquilo; e contudo não lhes perdoaríamos se se retirassem. Sensações daquelas esgotam mais vitalidade, em cada instante, do que anos de vida isenta delas.
O conselheiro lutava consigo mesmo para dominar-se; procurava preparar-se para receber o golpe, que bem podia dizer infalível.
Que esperava ele? Não lhe era quase possível contar, um por um, os votos de que dispunha? Não ficava, por mais alto que elevasse o cálculo, uma grande maioria a esmagá-lo? Tudo isto era assim, mas o convencimento prévio recusava estabelecer-se-lhe no espírito, para lhe dar a tranquilidade da certeza.
É um vivedouro sentimento o da esperança! Não sucumbe senão perante um desengano inevitável. Porque lhe chamam verde, senão talvez por, como as plantas exuberantes de seiva, resistir às mutilações e renovar os ramos cortados? O conselheiro, dominado por todos estes tumultuosos afectos, passeava agitado na sala, olhando às vezes para a janela, à espera de ver assomar ao portão do pátio um dos seus partidários, cabisbaixo e melancólico, e armando-se de coragem para lhe dar o desengano.