Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 30: XXXI

Página 471

Dir-se-ia que a filha lhe partira com a alma, e que era um cadáver o que se movia ali.

- Ah! Logo vi que era o Sr. Augusto - disse o pobre homem, estendendo a mão, que Augusto apertou com afecto. - Só nós temos amigos aqui.

- É verdade, Cancela. Ou só nós, fora daqui, não temos outros, pelos quais esqueçamos estes, que aí dormem.

- Eu decerto que não! Está-me toda a alegria, está-me todo o coração debaixo daquela pedra - disse o Herodes, apontando para o túmulo da filha. - Com mais de quarenta anos, que nova vida se pode principiar?

- Há quem aos vinte já não tenha coragem para principiar outra!

O Cancela olhou fixo para Augusto ao ouvir-lhe estas palavras.

- Fala de si, Sr. Augusto?... Não tem razão. Que são as suas dores ao lado da minha? Se inda não experimentou o amor e as alegrias de pai, como há-de imaginar a dor que a morte de uma filha única nos traz ao coração? A minha pobre Ermelinda!... Parece-me ainda impossível o tê-la perdido!... Queria a esse velho, Sr. Augusto?... E com razão, que era seu amigo e quase um pai para si... Mas não é sem remédio a sua saudade, verá... A minha, porém...

Augusto sorriu amargamente.

- Tu sabes lá, homem, o que eu tenho no coração?

Nisto chegou-lhes aos ouvidos um vozear distante, como um rumor de aclamações e aplausos. Eram os clamores dos grupos populares, celebrando a vitória do conselheiro.

Os sons da trompa do mestre Pertunhas dominavam todos os mais.

- Uns riem, enquanto outros choram - disse o Cancela. - Há alegria acolá.

E designou com o dedo o Mosteiro, cujos telhados se avistavam dali.

- Há... - respondeu Augusto, pensativo. - Somos de mais nesta terra, meu pobre Cancela; nós, os infelizes.

- Por isso parto esta manhã.

- Partes?

- Se eu não posso viver aqui! Se tudo isto me está falando na filha!.

<< Página Anterior

pág. 471 (Capítulo 30)

Página Seguinte >>

Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 471

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506