- Se não partir contigo, partirei só.
- Nesse caso...
- Espero-te. Aonde vais agora?...
- Ao Mosteiro.
- Ah!... Vais ao Mosteiro?...
- Vou despedir-me daquela santa família, que tão bem me tratou da filha, e de Ângelo, daquela alma de querubim, que ainda se não consolou também da morte da minha pobre Linda.
- Ângelo?... É um nobre coração... Espera... Não quero partir sem lhe dirigir algumas palavras... Devo-lhas...
- Só a ele?
- Só ele mas agradecerá.
E Augusto aproximou-se do túmulo da mãe de Madalena, e à froixa claridade daquela hora escreveu em um quarto de papel estas palavras: «Ângelo. - Escrevo-lhe sobre a pedra do túmulo em que repousa sua mãe e Ermelinda, duas imagens que serão sempre para o seu coração rodeadas de todo o prestígio da saudade. Ouça- -me, que em nome delas lhe falo. Dentro de algumas horas deixarei para sempre estes sítios. Se as memórias da infância me prendiam aqui, as sombras de grandes sofrimentos as ofuscaram. Parto quase sem custo. Não o tornando talvez a ver, Ângelo, tinha um dever a cumprir para com a sua generosidade. Hão-de ensiná-lo a desprezar-me, Ângelo. O seu nobre instinto de criança recusar-se-á a isso ao princípio, talvez; mas a razão do adolescente talvez venha a ser mais dócil. Não podendo justificar-me, deixe-me ao menos jurar-lhe que parto com a consciência tranquila. Não é por mim que faço este protesto; é para lhe evitar, se for possível, a dúvida no carácter dos homens. Para um coração, como eu lhe conheço, deve ser um martírio. Os mais que me condenem; nem necessidade sinto já de me justificar. Parto com um desalentado como eu. O que vou procurar não sei. Tudo aceito com indiferença.
Seu amigo, Augusto».
Fechando a carta, entregou-a ao Cancela, e, ajustando outra vez a hora a que deviam encontrar-se, separaram-se.