- Deve ser isso. Já tardava. É comunicado do Seabra. Leia, que são curiosos. O homem a apreciar as eleições de domingo deve ser soberbo. Isso não se pode perder. Leia, leia.
- Assina-o um leitor indignado.
- Justo. É o estilo do homem. Vamos lá a ver isso.
Henrique principiou a ler em voz alta o comunicado do Brasileiro.
A peça literária, de precioso lavor, em que o Sr. Seabra contava ao Mundo os factos eleitorais da sua terra, muito desejaria eu transcrevê-la aqui, se, pela sua extensão, não tomasse demasiado espaço, e se, pela sua unidade e estreita ligação lógica, se não subtraísse à menor tentativa de fragmentação.
Aquele comunicado era indivisível.
Apesar desta forçada omissão, espero que os leitores farão a justiça de supor o escrito digno do distinto economista, que ouvimos discursar com tanta proficiência na taverna do Canada.
O homem escrevia recheado de indignação pela série de ilegalidades, escândalos, subornos e pressões de todo o género de que, dizia ele, fora teatro aquela pacífica aldeia do Minho.
Em linguagem chã e rude ia tornar patente, acrescentava, aos olhos de todos uma pestífera chaga do organismo social. Sofismara- -se a urna e calcara-se aos pés a Carta. As frases em itálico são dele. Depois de um exórdio por esta afinação, em que fazia a conveniente razão de ordem, entrava o homem na matéria. Era um modelo de impertinente bisbilhotice o escrito; desfiava-se ali a vida de todos os eleitores com uma minuciosidade esmagadora.
Contava-se como o compadre de Fulano dissera isto e aquilo ao sobrinho de Sicrano; e como tal indivíduo fizera e acontecera; e como tal disse que havia de fazer, e não fez; e como aquele nem disse nem fez; e como aqueloutro dissera e fizera, e assim por diante.