Um dos mais maltratados era o Sr. Joãozinho das Perdizes.
Dizia o autor da correspondência que o Morgado se tinha vendido por vinho; que exercera pressão sobre os eleitores da sua freguesia; que era homem de péssimos costumes e moral depravada; jogador, bulhento, beberrão, cheio de dívidas, amigo de malfeitores, et coetera.
O conselheiro e Henrique seguiam a leitura com gargalhadas.
O comunicado passava depois a ocupar-se com o mestre Pertunhas.
O Brasileiro não lhe perdoara a pressa com que este celebrara a vitória do conselheiro, à frente da filarmónica que regia.
Por vingança chamava-lhe todos os nomes injuriosos, que a raiva lhe sugeria, inclusive o de estafador de trompa, e fechava por estas memoráveis palavras: «Para levar à evidência o carácter infame e intriguista deste sevandija, basta que diga que foi ele quem, poucos dias antes, subtraiu de uma pasta aquela célebre carta política, que tanto deu que falar no país. E este homem exerce o cargo de administrador do correio. Proh pudor!».
Como o leitor imagina, esta parte da correspondência produziu sensação no auditório.
Logo que Henrique concluiu a leitura, saiu de quase todas as bocas uma exclamação de surpresa ou de alegria.
- Como é?... Como é?... - perguntou o conselheiro. - Diz que...?
- É o mistério que se explica - respondeu Henrique. - A traição encarrega-se de a si própria se desmascarar.
- Então foi o Pertunhas?!... Mas... diz-se que tirou a carta de uma pasta.
- Era a de Augusto.
- Mas como estava ela aí?
- Lá isso sei eu como foi - disse D. Vitória -; fui eu que, por engano, lha tinha dado junta com outras para ele escolher alguma para a leitura dos pequenos.
Cristina celebrou a descoberta, beijando com efusão