Abria-se, ao fim desta rua, o alto portão do pátio.
Henrique, deixado só pelo guia ao chegar ali, foi caminhando vagarosamente por esta avenida, dominado por a íntima comoção e sentimento quase de temor, que se apodera de nós em todos os lugares a que se ligam memórias do passado.
A fantasia estava-o transportando a tempos, a que não chegavam já as suas recordações, às épocas, em que, por entre estas árvores gigantes, se via perpassar como um fantasma, o hábito escuro do monge, cuja sombra o Sol, ao declinar no horizonte, tantas vezes projectou, esguia e estirada, ao longo daquela mesma avenida.
Impressionado com esta ordem de pensamentos, chegou Henrique ao portão, transpondo o qual, se introduziu no pátio. Era um largo terreiro de perfeita forma rectangular, limitado ao fundo pela fachada da casa, lateralmente por elevadas paredes, armadas, à maneira de panos de Arrás, com tapeçarias de vigorosas heras. A cada uma das paredes encostavam-se dois tanques de vasta capacidade.
No tempo dos frades vomitavam, sem cessar, as feias e enormes carrancas, de todos estes quatro tanques, grossos jorros de fresca e puríssima água; porém, as medidas económicas do último proprietário e as exigências dos projectos agrícolas haviam derivado para outros fins parte desta abundante veia, de maneira que três daquelas bacias estavam agora completamente a seco.
Os fetos, de folhas recortadas, as pegajosas parietárias, os funchos odoríferos, havia muito que tinham invadido a boca dos encanamentos inúteis onde encontravam asilo imperturbado lacertinos, aranhas e miriápodes, e se estabeleciam pacíficas colónias de caracóis.
A fachada do ex-mosteiro nada tinha de notável pelo lado arquitectónico. A arte não tivera fadigas, ao concebê-la; o cinzel pouco se embotara a executá-la: nem uma coluna singela, nem um florão, nem um tímpano lhe davam a menos pretensiosa aparência monumental.