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- Não averiguemos desses parentescos, priminha - acudiu Henrique -; eu aceito a proposta da mamã; peço para ser considerado do número dos seus primos.
Cristina baixou os olhos sorrindo.
Henrique prosseguiu:
- Mas parece que receava por mim, quando falou em ir a pé à Senhora da Saúde. Não sei onde é o lugar, mas desde já me comprometo a não cansar.
- Não tem que saber - disse D. Vitória, caminhando para uma janela. - Ela lá está. Olhe que inda é necessário saber trepar.
- Tendo duas tão galantes companheiras de viagem - tornou Henrique, depois de reparar no monte escarpado que ficava a alguma distância dali, o mesmo que o almocreve lhe mostrou - parece-me que daria a pé uma volta ao Globo e que subiria a correr o pico de Tenerife.
- O que eu lhe digo, primo - acrescentou D. Vitória - é que se acautele, porque, se lhes vai a fazer todas as vontades, tem que ver.
- Inda que morresse em tão agradável serviço, teria de agradecer a Deus a morte.
- Cá me chegou aos ouvidos o cumprimento - disse Madalena, que continuava a ler. - Logo ajustaremos contas.
- É implacável esta nossa prima, não acha? - perguntou Henrique, sorrindo, a Cristina, que por única resposta só soube sorrir também.
- Pois, então, é arranjarem, é arranjarem isso e quanto antes, que não há que fiar no tempo. Eu, se pudesse, também ia, mas já não são passeios para mim, e depois estes criados... Henrique de Souselas receou nova divagação sobre o assunto predilecto de D. Vitória; mas felizmente acudiu-lhe a Morgadinha, que disse, terminando a leitura da carta:
- Escreve-me o pai que tenciona vir passar connosco as férias do Natal e trazer Ângelo consigo. Promete demorar-se até o dia dos Reis.
As crianças saudaram a nova com gritos de alegria e saltos de causarem inveja a um clown de circo.