- Sempre chegou o correio! - exclamou Madalena com vivacidade, recebendo as cartas. - Porque veio tão tarde?
- A mulher contou-me lá umas histórias de uma queda, e...
- Coitada! Aconteceu-lhe algum mal?
- Esteja descansada, minha senhora. Ela já partiu e era um gosto vê-la correr.
Madalena abriu com pressa a carta recebida.
- É de meu pai - disse ela, olhando-lhe para a letra, e, depois de pedir licença, começou a ler para si.
- Pois agora - dizia, neste meio tempo, D. Vitória a Henrique - o que deve é aproveitar estes bonitos dias para dar alguns passeios.
As pequenas acompanham-no. Aonde me dizias tu no outro dia que querias ir, Cristina?
- Eu! - disse Cristina, corando.
- Tu, sim, menina. Inda ontem me falaste nisso. Ora onde era?...
- À Senhora da Saúde, mamã.
- Ai, é verdade, à Senhora da Saúde. Aí está já um passeio bonito. Vê? Saem daqui uma manhã cedo, levam alguma coisa para lá comer. Porque o ar do monte abre o apetite, e a cavalo estão lá num instante...
- A cavalo, mamã! Daqui à Saúde? Ora! Vai-se muito bem a pé - notou Cristina do lado.
- Isso é por os açudes.
- Pois por onde havíamos de ir?
- Por a Granja, que é melhor.
- Por a Granja! É uma légua!
- Que tem? Mas escusam de trepar como cabras por o lado dos açudes, que até é perigoso; e depois para que hão-de ir a pé, se para aí estão os cavalos sem fazerem nada? É vontade de se cansarem.
- Mas apetece inda mais, neste tempo. Só se... só se ali o Sr. Henrique... - disse Cristina, embaraçada, ao continuar.
- Eu o quê, minha senhora?
- Perdão - interrompeu D. Vitória. - Porque não hás-de tu chamar primo ao primo Henrique? Pois não chamas tia à tia Doroteia?
- Por isso mesmo, mamã, - respondeu Cristina - os sobrinhos da tia Doroteia não são.