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Capítulo 7: VII

Página 98

Ganhava a vida no ofício de hortelão, e, aos domingos e dias de festa, à força de rufos e pancadaria na retesada pele do seu companheiro inseparável - o zabumba. Era aos cuidados e vigilância deste par conjugal que o recoveiro Cancela confiava o seu mais precioso tesouro, a pequena Ermelinda, uma mimosa criança, que lhe ficara à sua viuvez, tão cheia de saudades, e a quem ele mais queria do que à menina dos olhos.

Ermelinda era afilhada da família Zé P’reira, e a mesma a quem ouvimos referir-se Ângelo no fim da carta.

Zé P’reira estava, como dissemos, só na cozinha, quando Augusto ali chegou: sentado, no meio da sala, sobre um alqueire voltado com o fundo para o ar, viradas as costas para a porta e a face para o lar apagado e vazio, falava, gesticulava e mudava de tom desde a nota mais grave e rouca da sua escala de barítono, até o mais agudo e desafinado falsete. A língua pegava-se-lhe ao céu-da-boca, dificultando-lhe suspeitosamente a articulação de algumas sílabas; era evidente que se apossara do hortelão o espírito familiar, o qual, neste caso, era um verdadeiro espírito, na acepção química do termo.

Zé P’reira era um homem baixo, já grisalho, suficientemente nutrido, de olhos vesgos e que mais vesgos se faziam quando o entusiasmo, o rapto artístico se apoderava dele; usava de umas suíças que pareciam tentar sumir-se-lhe pela boca dentro; tinha longos braços, acomodados às dificuldades e evoluções da sua arte, e pernas que, do joelho para baixo, lhe divergiam em ângulo de mais de trinta graus.

Quando Augusto deu com ele, o homem monologava, gesticulando:

- Ora, senhores, que é forte desgraça a minha!... É forte desgraça!... Aqui estou eu!... Um homem casado... casado à face da Igreja... que me casou em dia de S.

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Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 98

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506