Este pousou a carta.
O pai olhava-o obliquamente, como a esperar alguma reflexão.
Carlos fitou ainda Manuel Quintino, o qual lhe fez um imperceptível sinal.
Carlos aventurou-se:
– Enquanto ao negócio da aguardente… – disse ele com certa hesitação – nada…
O efeito foi maravilhoso!
Mr. Whitestone voltou-se com viveza e, sem disfarçar a íntima satisfação que lhe causava ver o filho tão bem informado, exclamou:
– Ah! Também reparaste? Foi o que logo me deu que entender. Cuidei que nem estavas ao facto!
Carlos, animado com o resultado, prosseguiu com mais coragem:
– Como era negócio de vulto…
Manuel Quintino fez porém uma careta, que o levou a corrigir.
– Isto é… de vulto não digo… mas…
– Mas que podia bem vir a sê-lo para o futuro… é assim – atalhou Mr. Richard.
– Exactamente – concordou o filho.
Manuel Quintino sorria.
– Mas já estive a pensar – prosseguiu Mr. Richard –; talvez influíssem nisto as condições do mercado em Londres. Subiria o género a ponto de exceder o máximo indicado nas nossas cartas.
– Pode ser, mas… – dizia Carlos, olhando para Manuel Quintino, à espera de receber inspirações dali.
Este afeiçoou os lábios como para pronunciar uma palavra, que a Carlos pareceu dever ser «juro». Por isso abalançou-se outra vez a dizer:
– E também o juro…
Parou, porque deveras não sabia o que devesse dizer do juro, nem era natural imaginar que tivesse subido ou descido.
Manuel Quintino moveu a cabeça em direcção ao tecto, exprimindo mimicamente a primeira hipótese.
– Talvez o juro subisse – concluiu, em vista de isto, Carlos Whitestone.
Mr. Richard aproveitou a insinuação do filho e, evidentemente satisfeito, notou com vivacidade:
– Efectivamente o juro está muito alto em Londres.
– Há muito tempo que o não tivemos tão desfavorável – apressou-se Carlos em dizer, desta vez sem hesitar, visto que dava apenas nova forma à mesma ideia.