– É verdade que não. Creio até que ainda nestes últimos dez anos não subiu tanto, como agora.
Carlos percebeu em Manuel Quintino um movimento de desaprovação, que o animou a dizer:
– Isso é que não sei; dez anos será de mais, contudo…
– Olha que não é de mais – insistiu Mr. Richard, deveras admirado das informações do filho e, depois de meditar algum tempo, continuou, voltando-se para o guarda-livros: – Em que ano teve lugar aquela quebra da casa Blackfield de Londres, Manuel Quintino?
– Em Outubro de 1847 – respondeu este, sem levantar os olhos da escrita.
– Em 47? – Ai, então tens razão, tens; 47 a 55… 8… É isso… Porque eu lembro-me de que estava então o juro a 8 por cento.
– E dessa vez – acrescentou Manuel Quintino – o câmbio era-nos mais desfavorável que hoje.
– É isso, é isso.
Essa conversa prolongou-se por algum tempo, com visível satisfação de Mr. Richard, com bastante dificuldade para Carlos e com superior diplomacia do bondoso Manuel Quintino, que estava sendo colaborador de Jenny, na obra de pacificação doméstica encetada por ela.
Ouviram-se enfim três horas na torre de S. Francisco, e Mr. Richard, depois do último exame aos livros e algumas recomendações mais, saiu do escritório, dando as boas-tardes a Manuel Quintino, fazendo a Carlos um sinal de despedida, menos seco do que de ordinário e, o que mais era, afagando na passagem o terra-nova, coisa que não praticava, senão em ocasiões de grande harmonia com o filho.
Ainda mal se tinha perdido nas escadas o som dos passos de Mr. Richard e o dos latidos de contentamento do Butterfly, impaciente de liberdade, já a carta do correspondente de Londres, descrevendo uma parábola, vinha cair na escrivaninha ao lado de Manuel Quintino, e Carlos acendia novo charuto e dispunha-se a seguir o exemplo paterno.