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Capítulo 10: X – Jenny

Página 117

Era triste a imagem desta vez!

Triste porquê?

Se os lábios da irmã de Carlos traíssem naquele momento as ideias que tão profundamente a absorviam, eles falariam deste modo:

– Pobre mãe! Porque venho encontrar-te assim triste? Não passaria ainda a nuvem desta manhã?… Mas era tão ligeira!… tão leve! que a mim mesma me inquietou pouco. Que adivinhas tu, boa mãe? – Isto pensava, ao beijar o retrato. – Alegra-te; Carlos deve estar agora no escritório; pobre Carlos! É tão bondoso aquele coração! Como ele havia de amar-te, como havia de acariciar-te, mãe, se ainda vivesses connosco! Poucos o conhecem bem. Mas porque estás ainda triste? Hás-de ver como voltarão amigos. É fácil reconciliar aqueles corações, que afinal tanto se estremecem! Uma ou outra nuvem, que passe entre ambos, gera-a o mesmo excesso de amor. Parece-me que ia a dizer como tudo se passou. A vista de Carlos foi bastante para dissipar todo aquele ressentimento… ressentimento próprio de quem muito estima!… Então! Já não tens confiança na tua filha? Bem vês como todos aqui me querem. Eles decerto vêem em mim alguma coisa do teu espírito, mãe, para serem assim tão dóceis com uma pobre rapariga. É à tua alma, à tua alma, que me acompanha, que eles obedecem afinal. Continua a meu lado, mãe, e eu serei forte; não me abandones, e verás que não há fundamentos para apreensões. E ainda triste! – E beijava o retrato. – E ainda… e ainda… e ainda!… – Beijava-o repetidas vezes.

Depois tentava a razão dissipar aquelas piedosas ilusões.

– Estou louca! – pensava então Jenny. – Pois como pode um retrato…

Aproximava-se mais da luz.

As ilusões voltavam outra vez, como volta o enxame das abelhas que o vento afasta das flores.

– Não sei, não sei como isto é, não posso saber…

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pág. 117 (Capítulo 10)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 117

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432