Nisto é como no mais.
Pois por serem belos os vergéis do Minho, perdem a beleza as lezírias do Vouga, ou até as paisagens alpestres de Trás-os-Montes?
Cecília não era loira nem trigueira, nem daquela cor pálida que sonham os poetas e de que os médicos desconfiam; tingia-lhe o rosto, graciosamente oval, um colorido que, em linguagem artística, julgo que nem tem ainda palavra criada.
Se porém, à falta de termos, sempre lhe quisessem chamar pálida, deviam acrescentar que era duma palidez através da qual se pressentia o sangue cheio de vida, que às vezes o transformava na difusa cor-de-rosa de um rosto de criança; os cabelos que, por um ondado natural, se erguiam levemente no alto da fronte vacilavam entre o negro e o castanho-escuro; os olhos, sim, esses eram negros deveras, e – qualidade bem rara em olhos! – de uma discrição impenetrável. Os olhos discretos, quando de ordinário são eles os primeiros que atraiçoam e inutilizam a reserva dos lábios! Olhos que ousam fitar-vos sem deixar fugir um segredo, nem desviar-se, por desconfiarem de si próprios! Discretos, mas expressivos de simpatia e de familiar bondade! Não imaginam os encantos de uns olhos assim! E não julguem que são por isso incapazes de eloquência; anime-os um dia a confiança e o amor, e verão os raios ofuscadores que despedem! Mas o que eles não fazem – e bem hajam por isso – é andarem por aí a desperdiçar eloquência, como esses implacáveis faladores que em toda a parte se ocupam a declamar discursos. Na conformação habitual dos lábios, no sorrir, no mover da cabeça, em todos os movimentos e gestos enfim, havia, em Cecília, uma completa ausência de arte, tanta naturalidade e franqueza, que a vista deixava-se ficar, com prazer suave e sem timidez, a contemplá-la.
Há