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Capítulo 11: XI – Cecília

Página 122
Nisto é como no mais.

Pois por serem belos os vergéis do Minho, perdem a beleza as lezírias do Vouga, ou até as paisagens alpestres de Trás-os-Montes?

Cecília não era loira nem trigueira, nem daquela cor pálida que sonham os poetas e de que os médicos desconfiam; tingia-lhe o rosto, graciosamente oval, um colorido que, em linguagem artística, julgo que nem tem ainda palavra criada.

Se porém, à falta de termos, sempre lhe quisessem chamar pálida, deviam acrescentar que era duma palidez através da qual se pressentia o sangue cheio de vida, que às vezes o transformava na difusa cor-de-rosa de um rosto de criança; os cabelos que, por um ondado natural, se erguiam levemente no alto da fronte vacilavam entre o negro e o castanho-escuro; os olhos, sim, esses eram negros deveras, e – qualidade bem rara em olhos! – de uma discrição impenetrável. Os olhos discretos, quando de ordinário são eles os primeiros que atraiçoam e inutilizam a reserva dos lábios! Olhos que ousam fitar-vos sem deixar fugir um segredo, nem desviar-se, por desconfiarem de si próprios! Discretos, mas expressivos de simpatia e de familiar bondade! Não imaginam os encantos de uns olhos assim! E não julguem que são por isso incapazes de eloquência; anime-os um dia a confiança e o amor, e verão os raios ofuscadores que despedem! Mas o que eles não fazem – e bem hajam por isso – é andarem por aí a desperdiçar eloquência, como esses implacáveis faladores que em toda a parte se ocupam a declamar discursos. Na conformação habitual dos lábios, no sorrir, no mover da cabeça, em todos os movimentos e gestos enfim, havia, em Cecília, uma completa ausência de arte, tanta naturalidade e franqueza, que a vista deixava-se ficar, com prazer suave e sem timidez, a contemplá-la.

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pág. 122 (Capítulo 11)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 122

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432