Uma Família Inglesa - Cap. 11: XI – Cecília Pág. 123 / 432

um meio de reconhecer o género de beleza a que pertencia Cecília – género que eu sustento ser o nacional –: quando, junto de uma mulher formosa, vos sentirdes à vontade, sem que a razão se vos perturbe, sem que por galanteria vos julgueis obrigados a lisonjas, sem que fermente em vós o tanto ou quanto de poesia que encerram todos os corações; quando, suavemente dominados pela branda influência de um olhar sem requebros, puderdes sustentar com essa mulher uma conversa afectuosa, sincera, leal, como sustentaríeis com um amigo ou com uma irmã; quando, ao separar-vos dela, lhe apertardes cordialmente a mão, sem que nem a vossa, nem a sua estremeçam ao encontrarem-se e, finalmente, trouxerdes dessa entrevista uma impressão agradável que mais vos acalente do que vos agite os sonhos, ficai certos de que encontrastes um dos tipos de que falo.

Aviso-vos, porém, que os não julgueis pouco perigosos, apreciando-os pela placidez destes primeiros efeitos; se levais em conta de ventura a liberdade do coração, fugi-lhes enquanto é tempo; pois, continuando nessa convivência íntima, natural, insinuante, correis o risco de insensivelmente vos deixardes prender, e um dia, ao tentar terminá-la, surpreendeis-vos deveras apaixonados; pela dor que experimentais, conheceis então que fundas raízes lançara já o afecto.

Eu, por mim, julgo mais irresistíveis as paixões que se geram assim; as que nascem rápidas têm evolução rápida também, e muitas vezes apagam-se em pouco tempo.

Vendo nisto de paixões uma espécie de doenças da alma, como alguns querem, era possível talvez estabelecer nelas divisão análoga à que, nas do corpo, admitem os médicos. Haveria assim paixões agudas e paixões crónicas; umas, como as doenças do mesmo nome, geradas por impressões súbitas,





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