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Capítulo 11: XI – Cecília

Página 123
um meio de reconhecer o género de beleza a que pertencia Cecília – género que eu sustento ser o nacional –: quando, junto de uma mulher formosa, vos sentirdes à vontade, sem que a razão se vos perturbe, sem que por galanteria vos julgueis obrigados a lisonjas, sem que fermente em vós o tanto ou quanto de poesia que encerram todos os corações; quando, suavemente dominados pela branda influência de um olhar sem requebros, puderdes sustentar com essa mulher uma conversa afectuosa, sincera, leal, como sustentaríeis com um amigo ou com uma irmã; quando, ao separar-vos dela, lhe apertardes cordialmente a mão, sem que nem a vossa, nem a sua estremeçam ao encontrarem-se e, finalmente, trouxerdes dessa entrevista uma impressão agradável que mais vos acalente do que vos agite os sonhos, ficai certos de que encontrastes um dos tipos de que falo.

Aviso-vos, porém, que os não julgueis pouco perigosos, apreciando-os pela placidez destes primeiros efeitos; se levais em conta de ventura a liberdade do coração, fugi-lhes enquanto é tempo; pois, continuando nessa convivência íntima, natural, insinuante, correis o risco de insensivelmente vos deixardes prender, e um dia, ao tentar terminá-la, surpreendeis-vos deveras apaixonados; pela dor que experimentais, conheceis então que fundas raízes lançara já o afecto.

Eu, por mim, julgo mais irresistíveis as paixões que se geram assim; as que nascem rápidas têm evolução rápida também, e muitas vezes apagam-se em pouco tempo.

Vendo nisto de paixões uma espécie de doenças da alma, como alguns querem, era possível talvez estabelecer nelas divisão análoga à que, nas do corpo, admitem os médicos. Haveria assim paixões agudas e paixões crónicas; umas, como as doenças do mesmo nome, geradas por impressões súbitas,

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pág. 123 (Capítulo 11)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 123

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432