rápidas na sua marcha, prontas na sua terminação; outras, adquiridas insidiosamente, por influência de todos os dias, e de que nem se suspeita mal, lavrando a ocultas e revelando-se, apenas, quando o terreno já é seu e a vitória certa.
Quais delas zombam mais da arte, devem sabê-lo médicos e doentes.
Mas, voltando a Cecília, o seu conversar, ao qual dava realce o timbre de voz, vibrante e sonoro, tinha uma vivacidade e animação, direi até uma eloquência natural, que entretinha a ouvir-se; no decurso de qualquer conversação, era notável a frequência com que lhe passavam a voz e as feições por contínuas e sucessivas alternativas de tristeza e alegria; como alternam nas campinas a sombra e a claridade, quando atravessam rápidas o ar as nuvens impelidas pelo norte.
Era assim que, referindo acontecimentos tristes, uma ou outra circunstância deles desafiava-lhe um sorriso ou uma observação jocosa, e que, no meio da história mais jovial, não lhe passava despercebido qualquer ligeiro vestígio de sentimento que ela tivesse e, de repente, lhe desaparecia o riso dos lábios e os olhos reflectiam uma generosa melancolia.
Um dia, por exemplo, contava ela a Jenny, e contava-o quase a chorar, o infortúnio de um pobre centenário, a quem seu pai socorrera. O desgraçado velho vivia numa casa miserável e, abandonado de todos, ia sucumbindo à fome, quando Manuel Quintino o disputou compassivo a morte tão tormentosa.
– Se visse o pobre homem! – dizia então Cecília, com tremor de compaixão na voz – se o visse! Como ele nos recebia, chorando e rindo, como me pegava nas mãos para as beijar! Como erguia ao céu aqueles olhos, quase cegos pela velhice e pela desgraça! Fazia pena! Tão trémulo, tão curvado!… – E, de repente, vindo-lhe aos lábios um sorriso,