Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 11: XI – Cecília

Página 124
rápidas na sua marcha, prontas na sua terminação; outras, adquiridas insidiosamente, por influência de todos os dias, e de que nem se suspeita mal, lavrando a ocultas e revelando-se, apenas, quando o terreno já é seu e a vitória certa.

Quais delas zombam mais da arte, devem sabê-lo médicos e doentes.

Mas, voltando a Cecília, o seu conversar, ao qual dava realce o timbre de voz, vibrante e sonoro, tinha uma vivacidade e animação, direi até uma eloquência natural, que entretinha a ouvir-se; no decurso de qualquer conversação, era notável a frequência com que lhe passavam a voz e as feições por contínuas e sucessivas alternativas de tristeza e alegria; como alternam nas campinas a sombra e a claridade, quando atravessam rápidas o ar as nuvens impelidas pelo norte.

Era assim que, referindo acontecimentos tristes, uma ou outra circunstância deles desafiava-lhe um sorriso ou uma observação jocosa, e que, no meio da história mais jovial, não lhe passava despercebido qualquer ligeiro vestígio de sentimento que ela tivesse e, de repente, lhe desaparecia o riso dos lábios e os olhos reflectiam uma generosa melancolia.

Um dia, por exemplo, contava ela a Jenny, e contava-o quase a chorar, o infortúnio de um pobre centenário, a quem seu pai socorrera. O desgraçado velho vivia numa casa miserável e, abandonado de todos, ia sucumbindo à fome, quando Manuel Quintino o disputou compassivo a morte tão tormentosa.

– Se visse o pobre homem! – dizia então Cecília, com tremor de compaixão na voz – se o visse! Como ele nos recebia, chorando e rindo, como me pegava nas mãos para as beijar! Como erguia ao céu aqueles olhos, quase cegos pela velhice e pela desgraça! Fazia pena! Tão trémulo, tão curvado!… – E, de repente, vindo-lhe aos lábios um sorriso,

<< Página Anterior

pág. 124 (Capítulo 11)

Página Seguinte >>

Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 124

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432