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Capítulo 2: II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo

Página 14
O vê-las luzir eleva o pensamento a meditar coisas do céu.

Há entes assim que tudo santificam; paixões, que nuns acalentam vícios, são neles eficazes impulsos para sublimes virtudes.

O cálice, que, em mãos profanas, preside aos banquetes e às orgias, consagrado no altar, transforma-se em símbolo misterioso da mais augusta religião.

Deus desce também a muitas almas, para tornar em holocausto digno de si as paixões originárias delas.

Carlos era, sob muitos respeitos, diferente da irmã.

Inglês pelo sangue, meridional pelo clima, onde vira, a primeira vez, a luz do dia, onde passara a infância, onde sentira as primeiras comoções da adolescência, o despertar da vida do coração, tinha um carácter que se ressentia desta, de alguma sorte, dupla nacionalidade.

Da Península recebera o entusiasmo, a viveza de imaginação, a impetuosidade de sentimentos, que raras vezes reprimia; vinham-lhe da Grã-Bretanha a força de vontade, a pertinácia, o estoicismo, com que, em certas ocasiões, surpreendia a quantos julgavam conhecê-lo; vinham-lhe até, da mesma fonte, algumas excentricidades de manifesta herança paterna – eficaz inoculação de britanismo, que não lhe consentiria mentir à origem, se alguma vez o tentasse.

Ainda que algum tanto estouvado, não deixava por isso Carlos de possuir um generoso e compassivo coração, alma sensível a todos os infortúnios, olhos a que a piedade não permitia serem estranhas as lágrimas.

Se, por acções mal refreadas, por palavras irreflectidas, as fazia também verter, era ele o primeiro a acusar-se, a compadecer-se, a procurar enxugá-las por toda a qualidade de sacrifícios.

Capaz de heróica abnegação em bem dos outros, se frequentemente se esquecia de benefícios recebidos, como se poderia censurá-lo,

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 14

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432