Jenny arredou-o com a mão e fez-lhe sinal que continuasse.
– Mas enquanto às minhas amigas – prosseguiu Cecília – trabalhadeiras são elas; isso lá são, coitadas; mas, não faz ideia, numa hora de descanso… às trindades, por exemplo, já não pensam senão em como hão-de passar o domingo seguinte, e aí vão lembrar ao pai um passeio pelo rio acima, um jantar na Pedra Salgada ou em Fonte da Vinha, um almoço a Leça ou à Foz, uma noite ao teatro, e é raro que o pai, que é perdido por elas, não as satisfaça em alguns destes projectos, que demais a mais lhe agradam a ele também, é preciso que se diga. Muitas vezes convidam-me e, devo-o confessar, têm-me valido muitas horas de verdadeira distracção, isso têm. É uma família muito boa, e meu pai não põe a menor dúvida em deixar-me ir com ela para toda a parte.
– Estava à espera de uma confidência que me fizesse estremecer, espantar, e saem-me coisas tão naturais e tão boas que, confesso-lhe, menina, chego a estar desgostosa – disse Jenny, fechando o saco de marroquim, onde acabara de guardar todos os bordados, e dando às feições um fingido ar de mortificação.
Cecília sorriu a esta reflexão, mas acrescentou:
– Ainda é cedo. Não se apresse a julgar, que pode ter de contradizer-se depois. Havia muito tempo já… ora eu sei?… desde o ano passado, que estas meninas tinham entre si combinado um projecto, mais difícil porém de executar do que nenhum dos outros. Queriam por força que eu tomasse parte nele. Ao princípio disse-lhes que não; mas tanto me pediram, tanto me convenceram de que não havia nada a recear, que eu acabei por prometer que sim. Repare, Jenny, repare. Olhe que principia aqui o mau da minha história. O projecto era…
– Espere; deixe ver se sei – incendiar a cidade?
– Ora!
– Fazer uma revolução no país?
– Está a brincar?
– Partirem todas para a Crimeia?
– Jenny!
– Às cautelas e hesitações com que está…
– O projecto era irmos todas mascaradas ao teatro.