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Capítulo 12: XII - Outro depoimento

Página 132

Jenny arredou-o com a mão e fez-lhe sinal que continuasse.

– Mas enquanto às minhas amigas – prosseguiu Cecília – trabalhadeiras são elas; isso lá são, coitadas; mas, não faz ideia, numa hora de descanso… às trindades, por exemplo, já não pensam senão em como hão-de passar o domingo seguinte, e aí vão lembrar ao pai um passeio pelo rio acima, um jantar na Pedra Salgada ou em Fonte da Vinha, um almoço a Leça ou à Foz, uma noite ao teatro, e é raro que o pai, que é perdido por elas, não as satisfaça em alguns destes projectos, que demais a mais lhe agradam a ele também, é preciso que se diga. Muitas vezes convidam-me e, devo-o confessar, têm-me valido muitas horas de verdadeira distracção, isso têm. É uma família muito boa, e meu pai não põe a menor dúvida em deixar-me ir com ela para toda a parte.

– Estava à espera de uma confidência que me fizesse estremecer, espantar, e saem-me coisas tão naturais e tão boas que, confesso-lhe, menina, chego a estar desgostosa – disse Jenny, fechando o saco de marroquim, onde acabara de guardar todos os bordados, e dando às feições um fingido ar de mortificação.

Cecília sorriu a esta reflexão, mas acrescentou:

– Ainda é cedo. Não se apresse a julgar, que pode ter de contradizer-se depois. Havia muito tempo já… ora eu sei?… desde o ano passado, que estas meninas tinham entre si combinado um projecto, mais difícil porém de executar do que nenhum dos outros. Queriam por força que eu tomasse parte nele. Ao princípio disse-lhes que não; mas tanto me pediram, tanto me convenceram de que não havia nada a recear, que eu acabei por prometer que sim. Repare, Jenny, repare. Olhe que principia aqui o mau da minha história. O projecto era…

– Espere; deixe ver se sei – incendiar a cidade?

– Ora!

– Fazer uma revolução no país?

– Está a brincar?

– Partirem todas para a Crimeia?

– Jenny!

– Às cautelas e hesitações com que está…

– O projecto era irmos todas mascaradas ao teatro.

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pág. 132 (Capítulo 12)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 132

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432