– Ah! – disse Jenny, não podendo reprimir um gesto e um movimento de estranheza.
Cecília, que elevara os olhos para ela, percebeu-lhos.
– Eu não disse? Veja como principia já a…
– Não é por isso, mas… Continue – replicou Jenny, com mais curiosidade, e não desviando já os olhos de Cecília.
– Este projecto – prosseguiu a filha de Manuel Quintino – tinha, como lhe disse, grandes dificuldades. O major, tão amigo de fazer a vontade às filhas, não quis ouvir falar em tal. Elas porém é que já não podiam tirar aquilo da ideia.
– E foram? – perguntou Jenny.
– Havia muito que andavam à espera de ocasião. E o Carnaval a fugir-lhes! Há-de haver porém três dias que o major foi, por negócios militares, obrigado a sair da cidade.
– Então?…
– As filhas ficaram sós em casa com uma tia delas, muito boa senhora, mas que não sabe recusar-lhes nada. Que mais queriam?
– Foram?
– Foram; ontem mesmo. Se parece que tudo se lhes preparou como elas desejavam!
– E a menina? – interrogou Jenny, cada vez mais preocupada com o que ouvia.
– Tinham-me convidado para ir de tarde a casa delas. Depois de lá estar, mandaram, sem que eu soubesse, recado a meu pai de que eu voltaria tarde, pois tinha de ir com elas a uma reunião em casa de umas senhoras suas amigas.
– Visto isso…
– Era noite, quando me apresentaram um dominó e me comunicaram o seu projecto. Eu ainda lhes pus algumas dúvidas, mas…
– Foi?
– Fui. Ah! Como está já tão séria! Não o dizia eu?
Efectivamente Jenny não teve poder de disfarçar a impressão que lhe estava fazendo a confidência de Cecília, já pela natureza dela, já pela semelhança com a que do irmão ouvira poucas horas antes.
– Prometi dizer-lhe a verdade, Cecília – principiou Jenny, tomando com afecto as mãos da sua amiga, que interrompera o trabalho já – e seria faltar à minha promessa ocultar-lhe que me parece ter sido algum tanto aventurada essa resolução.