No entretanto dizia:
– O mesmo sucedeu às minhas amigas; preparámo-nos logo para deixar o baile. Vendo, porém, que nos seguiam, socorri-me ao cavalheirismo do que primeiro me falou, e isso nos valeu.
– Ah!
– Serviu-nos de guia e protector através das ruas ainda cheias de máscaras; mas insistia depois em nos conduzir a casa. Tremi ainda mais com esta insistência do que com a dos outros. Este conhecia meu pai e se soubesse… Oh, meu Deus!… Por mais que lhe rogássemos, não queria deixar-nos; eu, perdida de susto, pedi a Deus uma inspiração. A inspiração veio e foi poderosa. Ele deixou-nos afinal, e nós entrámos em casa... mas eram quatro horas da manhã.
O que faltara à confidência podia Jenny bem supri-lo de per si; desviando porém os olhos disfarçadamente, ponderou como se pretendesse desenganar-se:
– Falta-lhe agora dizer, Cecília, para ser completa a confidência, quem era esse homem e qual foi a inspiração que Deus mandou à menina.
Desta vez também os alfinetes de Jenny parecia exigirem certos cuidados, que ela lhes concedeu.
Cecília balbuciava com manifesto enleio:
– Ah! Quem era?… não sei; isto é… quero dizer… era…
Jenny pegou-lhe na mão.
– Seja franca até ao fim – disse-lhe em tom de insinuante amizade. – Esse homem era meu irmão.
Cecília estremeceu e olhou espantada para Jenny.
– Como o sabe?
Sei tudo – replicou Jenny, apertando-lhe a mão com afecto. – E sei também a inspiração que teve e agradeço-lha.
– Sabe? Mas então…
– Carlos tem o costume de me contar tudo, e ainda esta manhã… há pouco… me tinha dito…
– Tudo? – perguntou Cecília de uma maneira particular e corando.
– Tudo – respondeu Jenny, dando a esta palavra uma inflexão e animando-a de um sorriso, que aumentaram a intensidade deste rubor.