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Capítulo 2: II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo

Página 15
quando, habituado a realizá-los maiores, não exigia também dos favorecidos a gratidão em recompensa, parecendo até desconhecer os direitos que tinha a ela?

Corajoso até à imprudência, liberal até à prodigalidade, sincero até à rudeza desatenciosa, os seus maiores defeitos não passavam de nobres qualidades, levadas ao excesso.

O que ele não sabia, ou não podia, era conservá-las no ordeiro meio termo, tão respeitado pela sociedade.

O sangue dos vinte anos fazia doidejar aquela cabeça; os instintos generosos faziam o tormento daquele coração, porque se uma, em momentos de exaltação, conseguia romper com as generosas repugnâncias do outro, a reacção era infalível, e este, mais tarde, obrigava-a a arrepender-se, descobrindo, e exagerando até, as nem sempre remediáveis consequências dos seus desvarios e caprichos.

Carlos era destes homens que encerram e alimentam no próprio seio o seu principal inimigo.

Entre Carlos Whitestone e o pai existia um cordial e puro afecto, ainda que disfarçado, em ambos eles, sob aparências de frieza e de reserva da mais genuína índole britânica.

Raras vezes se procuravam os dois, e sempre que, nas ocasiões ordinárias, se viam juntos, poucas palavras trocavam. Quando mais solta se desenvolvia a loquacidade de Mr. Richard na presença do filho, era ao saborear os últimos cálices, depois do jantar de família; mas, ainda então, a conversa quase se reduzia a uma espécie de extenso e variado monólogo, recitado por aquele e interrompido por este apenas com algumas frases de assentimento, em que predominavam os Yes, ao mesmo tempo que os lábios se armavam de um sorriso de complacência – nem sempre segura fiança de atenção.

Carlos respeitava o pai, amava-o até com extremos capazes de lhe inspirarem os maiores sacrifícios, e contudo evitava-o, como se, junto dele, se não achasse à vontade.

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 15

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432