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Capítulo 13: XIII - Vida portuense

Página 142

Esta crise exacerbou aquele já extremoso amor de pai.

Não havia sábado em que Manuel Quintino, parco em excesso talvez consigo, e que por isso granjeara entre os amigos a imerecida reputação de avarento, entrasse em casa com as mãos vazias, sem um mimo, uma lembrança para Cecília, arrostando com as meigas exprobrações desta e com seus mal simulados arrufos.

Quantas vezes ele fazia, como costuma dizer-se, vista grossa para o azulado ameaçador dos cotovelos e das costuras do casaco, para as quebras lastimosas do seu chapéu de seda, só com o fim de poupar algumas libras e comprar um xaile, uma marquesa, um vestido novo a Cecília!

Só depois de repetidas insinuações, pedidos, e até afectuosas ameaças da parte da filha, só depois de ela haver esgotado os mil recursos da sua eloquência, é que Manuel Quintino se decidia, enfim, a olhar por si e a atender às necessidades próprias.

O meio mais poderoso a que, para isso, Cecília recorria era pedir-lhe que a acompanhasse a um lugar público qualquer. Então o guarda-livros, que não aprendera a recusar-lhe nada, prometia, cismava, coçava a orelha, examinava o fato, torcia o nariz, resmungava e, no dia ajustado, ele aí se apresentava de uniforme novo, para servir de cavalheiro à filha.

A ideia de a fazer passar por uma vexação realizara o milagre e vencera a sua modesta repugnância.

Cecília sabia-se objecto deste culto, e retribuía-lho com atenções e carinhos, que deixavam compreender ao pai o que devia ser a felicidade suprema.

O leitor, costumado a passar a noite no teatro, nos bailes ou nas assembleias, mal pode fazer ideia do prazer íntimo com que Manuel Quintino via escurecer a tarde e cintilarem, ainda pálidas, as primeiras estrelas no céu.

Preparava-se-lhe um desses gozos

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pág. 142 (Capítulo 13)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 142

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432