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Capítulo 13: XIII - Vida portuense

Página 143
plácidos, que são mal concebidos por quem deles anda arredado em hábitos de vida mais turbulenta; mas aos quais não há talvez carácter ou temperamento humano, que não corra o perigo de habituar-se, se por algum tempo lhes experimentar as doçuras.

É mais fácil, e mais vezes se realiza, a transição da vida errante, tumultuosa e agitada para estes monótonos prazeres do viver doméstico, do que a inversa; como se o pendor natural da índole do homem o chamasse mais para ali.

Os serões de Manuel Quintino, aqueles seus tão apreciados serões, passavam-se todos com uniformidade tal, que, por um, se ficava, com raras excepções, a conhecê-los todos.

O fim da tarde e a noite daquele dia em que se passou a parte das cenas que havemos descrito até aqui podem oferecer-nos uma perfeita amostra deles.

Manuel Quintino, depois de jantar, viera assistir, da varanda do ocidente, ao espectáculo do crepúsculo e regalar a vista por sobre as quintas, jardins, casas e alamedas do vasto panorama que o mar cingia de zona prateada.

A tarde estava de chuva, mas o vento de sudoeste conseguira romper o extenso manto que cobria o firmamento e, mostrando um pouco do azul da abóbada celeste, deixava que o Sol, no ocaso, dourasse as últimas nuvens, que daquele lado limitavam o horizonte.

As ocupações domésticas de Cecília só de quando em quando lhe permitiam assomar também à varanda, e, recostando então o braço ao espaldar da cadeira do pai, fazia notar a este as particularidades de beleza daquele vasto quadro, que o espírito pouco analítico do velho somente apreciava em globo.

– Repare naquela nuvem cor-de-rosa. Não parece mesmo uma ave com as asas abertas? – perguntava Cecília, designando uma das tais nuvens que o Sol tingia de reflexos afogueados.

– Uma ave! – dizia Manuel Quintino, fitando o objecto designado.

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pág. 143 (Capítulo 13)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 143

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432