Desciam para a sala contígua ao quarto de Manuel Quintino; sala modestamente mobilada, mas em cada particularidade da qual se revelava o bom gosto de Cecília. Se ali dentro se não encontrava nenhum móvel de alto preço, nenhum objecto de elegância luxuosa, não havia também as ridículas demonstrações de um gosto grosseiro, amontoadas sem ordem, adquiridas sem escolha.
Descobria-se em todo aquele recinto um asseio e conchego que fazia bem contemplar.
Manuel Quintino sentava-se junto da mesa do trabalho, em uma cadeira de braços, verdadeiramente patriarcal; Cecília trazia luz, fechava as janelas, pousava a cesta da costura e vinha sentar-se ao lado do pai.
Manuel Quintino contava alguma coisa do ocorrido no escritório; Cecília correspondia-lhe, referindo o que, na ausência de Manuel Quintino, sucedera em casa.
Naquela noite o pai falou muito de Carlos, das suas travessuras, do seu estouvamento, dos enganos que naquela manhã lhe fizera ter na escrita, do episódio da aguardente, dos sentimentos de Mr. Richard para com o filho e, sobretudo, do bom coração do rapaz.
Cecília escutava-o com atenção, sem nunca o interromper com perguntas, mas também sem nunca levantar os olhos da costura, para os fitar no pai.
Nisto retiniu a campainha do portal.
– Aí está o homem – disse Manuel Quintino.
– Antónia, vá alumiar – bradou Cecília.
Ouviu-se Antónia descer pesadamente as escadas, depois algumas palavras trocadas no portal, os passos de duas pessoas subindo, e o homem, que Manuel Quintino parecia esperar, entrava para a sala, tirando o chapéu e cumprimentando os circunstantes com a invariável fórmula:
– Muito boas-noites, Sr. Manuel Quintino; muito boas-noites, menina.
Este homem era um vizinho e amigo de Manuel Quintino,