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Capítulo 13: XIII - Vida portuense

Página 149
A apologia exaltada do governo interrompia-a ela às vezes com um aparte capaz de produzir crise ministerial, se fosse escutado nas Câmaras; uma catilinária, acerbamente oposicionista, desafiava-lhe reflexões que neutralizavam o contágio antigovernamental que principiava a fazer das suas nas profundas convicções de ordem do Sr. José Fortunato.

O leitor deve estar certo de que, por aquele tempo, monopolizavam a curiosidade pública as variadas peripécias da Guerra da Crimeia.

Cecília era obrigada a ler aquelas descrições de carnificina que todos os dias enchiam as colunas dos periódicos; isto o fazia ela sempre com a fronte contraída de desgosto.

Manuel Quintino era pelos aliados, José Fortunato esposava a causa dos russos – um e outro sem saberem bem porquê. Cecília era só pelos mortos e feridos.

Um dia, parou no meio da descrição de um dos mais sanguinolentos encontros dos dois exércitos, para interpelar o pai sobre a causa desta guerra implacável.

A pergunta embaraçou consideravelmente Manuel Quintino, que olhou para o Sr. José Fortunato, como a ver se lhe vinha auxílio dali; o Sr. Fortunato o mais que pôde dizer foi: – «Que a guerra era lá por causa de umas coisas.»

Cecília também não exigiu saber mais.

– «Os russos… – leu ela naquele serão – fazem fogo durante a noite sobre o campo dos aliados; estes abstêm-se de responder.»

– Têm medo – comentou logo o Sr. José Fortunato, com um sorriso.

– Isso é plano! – acudiu Manuel Quintino, com ares de quem entrava no mistério.

– «Os atiradores aliados respondem, porém, de dia com proveito» – continuava Cecília.

– Então? Era ou não era plano? Eu logo vi – exclamou Manuel Quintino, exultando.

– Balas perdidas – replicava o outro, encolhendo os ombros com desdém.

– «Os soldados – prosseguiu Cecília – pedem com entusiasmo ao general em chefe que dê a batalha» – e, acabando de ler isto, fez um gesto de aversão.

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pág. 149 (Capítulo 13)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 149

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432