Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 2: II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo

Página 16

E não achava, de facto.

Possuía Carlos um destes génios que não suportam constrangimentos; ou hão-de romper com eles, ou evitá-los.

Calava-se, onde não podia abandonar-se aos caprichos de uma conversa fútil; entristecia, onde lhe fossem estranhas as expansões de uma alegria infundada, de um desses irresistíveis júbilos de criança que, como tal, em puerilidades se revela. Dessem-lhe a liberdade de poder ser estouvado, vê-lo-iam talvez sisudo; mas, forçado a isto, tornava-se sombrio e de mau humor.

Ora a austeridade de costumes de Mr. Richard Whitestone, a rigidez dos seus princípios de decoro e de respeito às praxes da etiqueta inglesa exerciam sobre Carlos uma influência, contra a qual não tinha coragem de revoltar-se; e por isso fugia-lhe.

No pai via quase sempre um juiz severo e inflexível, pronto a julgá-lo e a condená-lo talvez; e Carlos, que habitualmente trazia na consciência algum pecado de juventude a remordê-la, e que não confiava no seu poder de dissimular, furtava-se, quanto podia, às investigações do júri paternal, sempre antevistas por ele e bem longe às vezes do intento de Mr. Richard Whitestone.

Este, de seu lado, não amava menos extremosamente o filho; para as verduras da mocidade era indulgente, como, em tempos passados, desejara e precisara que fossem também consigo; Deus sabe que esforços lhe custavam até estes sisudos ares de convenção tão opostos ao fundo de desafogada jovialidade do seu carácter, e que não conseguiam dissipar o sorriso, que tinha como que estereotipado nos lábios.

Julgava ele, porém, do dever de pai e natural mentor que era de Carlos, conservar sempre certo ar de hombridade e de quase rudeza para com o estouvado que, não raro, lhe estava dando motivos para mais severas penas.

À sua precisão britânica repugnavam longos discursos de moral e prolixas catequeses.

<< Página Anterior

pág. 16 (Capítulo 2)

Página Seguinte >>

Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 16

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432