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Capítulo 13: XIII - Vida portuense

Página 152

Esta parte ouvia-a Manuel Quintino dormitando. Não lhe levem isto a mal os folhetinistas. José Fortunato, pelo contrário, ouvia-a com ardor; a maneira de ler de Cecília inoculara-lhe o gosto dos romances. Tomava agora pelas peripécias um calor exagerado. Para ele era ponto de fé que tudo aquilo acontecera, e que tinham vivido, ou viviam ainda, os personagens entre quem se travava a acção. Censurava por isso com a mesma violência e louvava com a mesma satisfação esses heróis fantasiados, como se fossem membros reais da sociedade.

Lido o folhetim, Cecília passava o jornal ao Sr. Fortunato, e ia tratar do chá. Fortunato lia para si os anúncios.

Manuel Quintino passava então pelo sono.

Depois travava-se entre os dois um diálogo, todo cortado de bocejos contagiosos; – os assuntos eram para estes efeitos. Eis o programa desta noite:

Primeira parte: – Fortunato principia por dizer – «Pois é verdade». – Replica-lhe Manuel Quintino – que a vida estava para ele. – «Queixe-se, que tem de quê» – diz o outro. – «E não tenho pouco» – responde Manuel Quintino. Dois bocejos de ambos os lados, e pausa.

Segunda parte: – Manuel Quintino queixa-se de umas dores de cabeça. Fortunato atribui-as ao tempo e esfrega os olhos. Manuel Quintino inclina-se a que seja antes do estômago. O outro aconselha-lhe que não use de café ao almoço. Bocejos recíprocos.

Terceira parte: – O Sr. Fortunato, olhando para o tecto, nota que a sala tem diminuto pé-direito. Manuel Quintino responde que, para a largura, é o bastante. O outro diz algumas palavras sobre as vantagens dos estuques. Manuel Quintino concorda e procura uma transição para falar contra os senhorios; Fortunato responde-lhe com uma diatribe contra os caseiros. Reproduz-se um bocejo em Manuel Quintino, que se transmite ao outro.

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pág. 152 (Capítulo 13)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 152

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432