Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 14: XIV - Iminências de crise

Página 162
E diz-se então que soube gozar da vida o que voluntariamente se privou das mais gratas impressões que podem sentir-se nela!

Isto dizia, ou antes, pensava Carlos, ao entranhar-se cada vez mais no pinheiral e respirando a pleno peito a atmosfera balsâmica do lugar.

– Nem eu sei – prosseguiu ele – como ainda experimento prazer, ao achar-me aqui só. Nos hábitos de vida que fiz meus, perde-se até a faculdade de saber sentir assim, a sós; quando é talvez desta maneira que a imaginação mais subtil se mostra…

Vejam os leitores até onde iam já arrastando Carlos os atractivos daquela solidão suburbana!

Operou-se porém uma transformação nas suas ideias, que parecia vogarem, e à vela cheia, seduzidas pelas doçuras da vida de anacoreta. Um pensamento, menos misantropo, mais social, fê-las mudar de rumo.

– Mas não – reconsiderou ele – não basta sentir; é necessário transmitir as expressões dos nossos sentimentos, e os troncos das árvores, afinal de contas, não são os confidentes mais próprios. Tudo precisa de reflectir-se, para se não perder na imensidade; a luz, num espaço vasto, dissipa-se; o som esmorece; o sentimento parece também enfraquecer, se outro coração, reflectindo-o, o não reforça. É por isso que a presença de um amigo… Mas que amigos tenho eu?

Tremo deveras pelos chamados amigos de Carlos, ao vê-lo disposto a responder a esta pergunta que fez a si próprio.

– F… – continuou ele – cuja amizade não resistirá à primeira falta de senso que lhe notar num folhetim; C… que romperá comigo, se eu tiver a franqueza de lhe apontar o menor defeito de equitação; L… que abandonaria o amigo, logo que o visse seguir um terreno, onde ele corresse o perigo de enlamear as botas de polimento…, e todos os mais da mesma força. Vão lá escolher um desses homens para companheiro nestas viagens sentimentais.

<< Página Anterior

pág. 162 (Capítulo 14)

Página Seguinte >>

Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 162

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432