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Capítulo 14: XIV - Iminências de crise

Página 163

Aqui interrompeu-se para observar um pequeno e ágil lacerto, que fugiu espavorido ao senti-lo aproximar, e do buraco, onde se ocultara, continuava espiando-lhe os movimentos com os olhos vivos e como cintilantes. Carlos achava curiosíssimo este espectáculo vulgar. Depois seguiu caminho, distraído ainda, e pensava:

– Aí está; se eu dissesse a qualquer que me entreteve esse pequeno réptil, correndo por entre os fetos e por sobre as pedras musgosas daquele muro, zombariam da minha candura; chamar-lhe-iam pieguice… Há certas vibrações de sensibilidade que não se podem comunicar… a não ser… a não ser a um coração de mulher… Elas sim, têm certas puerilidades sublimes, que… Ora adeus! Temos outra como a dos amigos. Se me recordar de algumas mulheres que tenho amado, que vejo eu? A S… mulher nervosa, que teria um delíquio só ao ver aquela sardonisca – sensibilidade de toucador; a C…, essa então, mulher forte, que só um terramoto, como o de Lisboa, seria capaz de comover; a E…, beleza de salão, que se levanta ao meio-dia, admira a natureza… nos jardins e lamenta que a solidão não tenha gente que veja como ela a sabe apreciar…; e as outras regulam por isto. Verdade é que eu também com isto me satisfazia; quem sabe se procurando de outra maneira…

Neste ponto tomaram as suas meditações outro carácter. Alguns passos mais adiante, já ele meditava:

– À força de me rir, em sociedade, do amor sincero, desinteressado, dos casamentos de paixão, da vida de família, quase me deixei persuadir de que me ria convencido. E contudo, se me sondar deveras… se aproveitar estes momentos raros, em que sou franco e expansivo comigo mesmo…

O leitor sabe decerto até onde podem chegar as excursões do pensamento, quando no terreno que o de Carlos ia seguindo

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pág. 163 (Capítulo 14)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 163

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432