Uma Família Inglesa - Cap. 14: XIV - Iminências de crise Pág. 163 / 432

Aqui interrompeu-se para observar um pequeno e ágil lacerto, que fugiu espavorido ao senti-lo aproximar, e do buraco, onde se ocultara, continuava espiando-lhe os movimentos com os olhos vivos e como cintilantes. Carlos achava curiosíssimo este espectáculo vulgar. Depois seguiu caminho, distraído ainda, e pensava:

– Aí está; se eu dissesse a qualquer que me entreteve esse pequeno réptil, correndo por entre os fetos e por sobre as pedras musgosas daquele muro, zombariam da minha candura; chamar-lhe-iam pieguice… Há certas vibrações de sensibilidade que não se podem comunicar… a não ser… a não ser a um coração de mulher… Elas sim, têm certas puerilidades sublimes, que… Ora adeus! Temos outra como a dos amigos. Se me recordar de algumas mulheres que tenho amado, que vejo eu? A S… mulher nervosa, que teria um delíquio só ao ver aquela sardonisca – sensibilidade de toucador; a C…, essa então, mulher forte, que só um terramoto, como o de Lisboa, seria capaz de comover; a E…, beleza de salão, que se levanta ao meio-dia, admira a natureza… nos jardins e lamenta que a solidão não tenha gente que veja como ela a sabe apreciar…; e as outras regulam por isto. Verdade é que eu também com isto me satisfazia; quem sabe se procurando de outra maneira…

Neste ponto tomaram as suas meditações outro carácter. Alguns passos mais adiante, já ele meditava:

– À força de me rir, em sociedade, do amor sincero, desinteressado, dos casamentos de paixão, da vida de família, quase me deixei persuadir de que me ria convencido. E contudo, se me sondar deveras… se aproveitar estes momentos raros, em que sou franco e expansivo comigo mesmo…

O leitor sabe decerto até onde podem chegar as excursões do pensamento, quando no terreno que o de Carlos ia seguindo





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