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Capítulo 14: XIV - Iminências de crise

Página 166
Ao estado do seu coração não satisfazia só o sorriso fraternal e meigo que animava de bondade as feições da irmã. A seu pesar, surpreendia-se a aspirar a mais.

A tarde adiantava-se e Carlos não se desviava dali; prendia-lhe as atenções aquela casa e a simpática visão da varanda.

Afinal fecharam-se as janelas. Pouco faltava para o Sol se esconder de todo no mar. Carlos reparou então que era tempo de voltar a casa.

Olhou mais outra vez ainda, e com saudade quase, para a varanda. Os seus poucos e imperfeitos conhecimentos da topografia daquela parte da cidade não lhe permitiram conjecturar sequer qual fosse a rua a que pertencia a habitação.

A nossa costumada discrição impede-nos de compensar este defeito.

Seguindo outra vez o caminho, por onde viera, Carlos voltou a casa, mas a passos mais apressados.

Já próximo da porta, sentiu uma mão que se lhe pousava no ombro. Voltou-se; reconheceu um de seus amigos.

– Que fazes tu, homem?

– Recolho-me.

– De onde vens?

– Do campo.

– Ah! cultivas a bucólica? a poesia pastoril?

– Às vezes.

– Dou-te os pêsames. Gessner envelheceu; Florian dorme o sono dos inofensivos. A propósito, já te mostrei o meu folhetim de crítica, a respeito do volume do Serrão?

– Ainda não.

– Aparece então no Guichard esta noite. O livro é um pretexto; o que eu procuro é caracterizar a literatura moderna, extremando os campos, hoje um pouco confusos, de românticos e de clássicos. Sabes que é o meu sistema investigar nas pequenas aparências as grandes revelações? É o que faço desta vez ainda. Assim, neste estudo, serviram-me de ponto de partida duas palavras apenas; uma colhida de Racine, na Berenice; outra de Vítor Hugo, no Ruy Blas. São as palavras finais de uma e de outra tragédia. Antiochus vê partir Berenice e exclama: Hélas! Ruy Blas morre nos braços da rainha e murmura: Merci! Basta-me isto.

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pág. 166 (Capítulo 14)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 166

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432