Mas a vida doméstica, tal como se passava ao fogão, junto do qual Mr. Richard quase dormitava, não era a que o podia satisfazer.
O viver íntimo, cujos encantos Carlos julgara ter concebido aquela tarde, era apenas o acessório de alguma coisa mais essencial ao coração, de alguma coisa cuja necessidade começava a sentir enfim. Sorria-lhe o conchego doméstico, mas aquecido, mas iluminado por outras chamas, que não eram as que lambiam o fender do fogão; animado por mais ardentes sentimentos do que os de um afecto fraterno, ainda que dos mais estreitos, e do que os do respeito filial, ainda que dos mais arreigados e extremosos.
Estava por isso experimentando agora o desengano, e a comparar a monotonia daquela noite inglesa, com o prazer que imaginara poder saborear-se, sem abandonar os lares domésticos.
Isto fazia-o ainda mais silencioso e sombrio do que estivera em outras noites que passara como aquela em casa.
Depois que veio Jenny sucedeu o que quase sempre sucedia também. Mr. Richard manifestou desejos de a ouvir tocar.
Em virtude disto, passaram a uma das salas próximas; Mr. Richard sentou-se ao lado do fogão, também aceso ali; Carlos, próximo dele; Jenny ao piano.
Jenny, conhecendo por experiência as predilecções paternas, abriu a colecção dos Cantos Populares de Russell e procurou uma poesia de Morris, a qual tanto o pai como o irmão ouviam sempre com piedoso recolhimento.
O motivo desta atenção estava sobretudo na letra, que parecia feita de propósito para avivar, em toda a família, saudades da vida passada. Foi a meia voz, mas com verdadeiro sentimento, que Jenny cantou essa poesia, intitulada a Bíblia de minha mãe, cuja tradução é a seguinte:
«Este livro é tudo quanto me resta dela! Ao vê-lo, sinto rebentarem-me irreprimíveis as lágrimas dos olhos; com os lábios trémulos, com a fronte turvada, aperto-o ao coração.