Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 15: XV - Vida inglesa

Página 173

Mas a vida doméstica, tal como se passava ao fogão, junto do qual Mr. Richard quase dormitava, não era a que o podia satisfazer.

O viver íntimo, cujos encantos Carlos julgara ter concebido aquela tarde, era apenas o acessório de alguma coisa mais essencial ao coração, de alguma coisa cuja necessidade começava a sentir enfim. Sorria-lhe o conchego doméstico, mas aquecido, mas iluminado por outras chamas, que não eram as que lambiam o fender do fogão; animado por mais ardentes sentimentos do que os de um afecto fraterno, ainda que dos mais estreitos, e do que os do respeito filial, ainda que dos mais arreigados e extremosos.

Estava por isso experimentando agora o desengano, e a comparar a monotonia daquela noite inglesa, com o prazer que imaginara poder saborear-se, sem abandonar os lares domésticos.

Isto fazia-o ainda mais silencioso e sombrio do que estivera em outras noites que passara como aquela em casa.

Depois que veio Jenny sucedeu o que quase sempre sucedia também. Mr. Richard manifestou desejos de a ouvir tocar.

Em virtude disto, passaram a uma das salas próximas; Mr. Richard sentou-se ao lado do fogão, também aceso ali; Carlos, próximo dele; Jenny ao piano.

Jenny, conhecendo por experiência as predilecções paternas, abriu a colecção dos Cantos Populares de Russell e procurou uma poesia de Morris, a qual tanto o pai como o irmão ouviam sempre com piedoso recolhimento.

O motivo desta atenção estava sobretudo na letra, que parecia feita de propósito para avivar, em toda a família, saudades da vida passada. Foi a meia voz, mas com verdadeiro sentimento, que Jenny cantou essa poesia, intitulada a Bíblia de minha mãe, cuja tradução é a seguinte:

«Este livro é tudo quanto me resta dela! Ao vê-lo, sinto rebentarem-me irreprimíveis as lágrimas dos olhos; com os lábios trémulos, com a fronte turvada, aperto-o ao coração.

<< Página Anterior

pág. 173 (Capítulo 15)

Página Seguinte >>

Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 173

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432