– Então que tens tu a dizer da minha conversão? Desta comovente e miraculosa regeneração do filho pródigo? – perguntou Carlos a Jenny, quando chegavam à porta da sala da livraria, onde deviam separar-se.
– Que não sei se será muito duradoura – respondeu a irmã.
– E como queres que o seja, Jenny? Não viste que narcóticas delícias as deste conversar ao fogão? Dormir é um prazer; mas na minha idade!
– Então, Charles! – disse Jenny, olhando para ele, com ar de repreensão.
– Olha, minha boa Jenny, acredita o que te digo; eu fui hoje sincero deveras nas minhas tentativas de reconciliação com a fada do lar doméstico, com aquele génio bom que protegia a «gata borralhenta» na história que nos contavam em criança. Vim para casa, sonhando umas delícias de viver íntimo, as quais, infelizmente, tive o desgosto de achar que eram ilusórias. Tanto azul e dourado que via transformou-se em uma cor… pardacenta…
– Talvez tu sejas muito exigente.
– Ai, não o era, não. Mas que queres? Posso ter coragem para ouvir amanhã e depois e sempre a história do peru do reverendo Jackson? a das festas do Lorde Mayor? a das assuadas à rainha Carolina? ou deve-se-me estranhar que deserte diante das subtilezas teológicas dos doutores da nossa igreja, ou…?
– Tens razão; é preciso principiar por educar o coração, antes de tentar regenerar-te.
– O coração?! Que queres dizer?
– Tu vens para casa, como vais para o teatro; procuras distrair-te. Ora é claro que este viver de família não entretém uma imaginação como a tua, se é só para satisfazeres a imaginação que ficas; e concebo que tudo isto te deve ser insuportável, se o coração se fechou já de todo aos únicos gozos que nós podemos prometer-te.
– Não me faças tão endurecido que não saiba já apreciar os tocantes prazeres dessa convivência íntima, Jenny.