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Capítulo 15: XV - Vida inglesa

Página 176

– Então que tens tu a dizer da minha conversão? Desta comovente e miraculosa regeneração do filho pródigo? – perguntou Carlos a Jenny, quando chegavam à porta da sala da livraria, onde deviam separar-se.

– Que não sei se será muito duradoura – respondeu a irmã.

– E como queres que o seja, Jenny? Não viste que narcóticas delícias as deste conversar ao fogão? Dormir é um prazer; mas na minha idade!

– Então, Charles! – disse Jenny, olhando para ele, com ar de repreensão.

– Olha, minha boa Jenny, acredita o que te digo; eu fui hoje sincero deveras nas minhas tentativas de reconciliação com a fada do lar doméstico, com aquele génio bom que protegia a «gata borralhenta» na história que nos contavam em criança. Vim para casa, sonhando umas delícias de viver íntimo, as quais, infelizmente, tive o desgosto de achar que eram ilusórias. Tanto azul e dourado que via transformou-se em uma cor… pardacenta…

– Talvez tu sejas muito exigente.

– Ai, não o era, não. Mas que queres? Posso ter coragem para ouvir amanhã e depois e sempre a história do peru do reverendo Jackson? a das festas do Lorde Mayor? a das assuadas à rainha Carolina? ou deve-se-me estranhar que deserte diante das subtilezas teológicas dos doutores da nossa igreja, ou…?

– Tens razão; é preciso principiar por educar o coração, antes de tentar regenerar-te.

– O coração?! Que queres dizer?

– Tu vens para casa, como vais para o teatro; procuras distrair-te. Ora é claro que este viver de família não entretém uma imaginação como a tua, se é só para satisfazeres a imaginação que ficas; e concebo que tudo isto te deve ser insuportável, se o coração se fechou já de todo aos únicos gozos que nós podemos prometer-te.

– Não me faças tão endurecido que não saiba já apreciar os tocantes prazeres dessa convivência íntima, Jenny.

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pág. 176 (Capítulo 15)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 176

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432