Uma Família Inglesa - Cap. 15: XV - Vida inglesa Pág. 179 / 432

ou falsamente atribuída por um moderno escritor francês à musa popular da Bretanha:

– Longe, longe daqui, nas costas da Bretanha,

Poético país, que um mar sinistro banha,

Vivia, há muito tempo, um pobre pescador,

Que se chamava Amel, com a mulher Pennor.

Tinham eles um filho, uma criança loura,

Um anjo, que o porvir dos pais inflora e doura;

Ao voltarem a casa, alegres todos três,

Na praia os surpreende a noite de uma vez.

Crescia o mar veloz, medonho, ingente, forte!

Nesse tempo as marés eram vivas. A morte

Sobre as ondas boiava, indómita, cruel!

Olhando para a esposa, assim lhe diz Amel:

– «Pennor, vamos morrer! A vaga se aproxima!

Viverás mais do que eu! Ânimo! Sobe acima

Dos ombros meus, mulher. Pousa-te bem. Assim.

E, ao veres-me sumir… ai, lembra-te de mim!»

Pennor obedeceu. Firmando-se na areia,

Desaparece Amel na vaga, que o rodeia.

– «Amel! bradava a esposa; ai, pobre amigo meu!

Qual de nós sofre mais? – tu, que morres, ou eu,

Que te vejo morrer?» – E as águas, que subiam,

O corpo da infeliz no vórtice envolviam.

Olhando para o filho, assim lhe diz a mãe:

– «Filho, vamos morrer! Olha a maré que vem!

Viverás mais do que eu! Vá! filho, vá! Coragem!

Sobe aos meus ombros, sobe! E ao tragar-me a voragem,

Ai, lembra-te de mim e de teu pobre pai!»

E o mar a submergiu. Chora a criança e vai

Pouco a pouco a afundar-se. À flor d’água revolta,

Apenas já flutua a trança loura e solta…

Uma fada passou sobre o afrontoso mar;

Viu o cabelo louro, em baixo, a flutuar;

Estende a mão piedosa e, segurando a trança,

Com ela atrai a si a pálida criança.

E, sorrindo, dizia: – «Ai, que pesada que és!»

Mas viu cedo a razão; inda segura aos pés

Do filho estremecido, a pobre mãe começa

A erguer também da onda a húmida cabeça.





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