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Capítulo 15: XV - Vida inglesa

Página 179
ou falsamente atribuída por um moderno escritor francês à musa popular da Bretanha:

– Longe, longe daqui, nas costas da Bretanha,

Poético país, que um mar sinistro banha,

Vivia, há muito tempo, um pobre pescador,

Que se chamava Amel, com a mulher Pennor.

Tinham eles um filho, uma criança loura,

Um anjo, que o porvir dos pais inflora e doura;

Ao voltarem a casa, alegres todos três,

Na praia os surpreende a noite de uma vez.

Crescia o mar veloz, medonho, ingente, forte!

Nesse tempo as marés eram vivas. A morte

Sobre as ondas boiava, indómita, cruel!

Olhando para a esposa, assim lhe diz Amel:

– «Pennor, vamos morrer! A vaga se aproxima!

Viverás mais do que eu! Ânimo! Sobe acima

Dos ombros meus, mulher. Pousa-te bem. Assim.

E, ao veres-me sumir… ai, lembra-te de mim!»

Pennor obedeceu. Firmando-se na areia,

Desaparece Amel na vaga, que o rodeia.

– «Amel! bradava a esposa; ai, pobre amigo meu!

Qual de nós sofre mais? – tu, que morres, ou eu,

Que te vejo morrer?» – E as águas, que subiam,

O corpo da infeliz no vórtice envolviam.

Olhando para o filho, assim lhe diz a mãe:

– «Filho, vamos morrer! Olha a maré que vem!

Viverás mais do que eu! Vá! filho, vá! Coragem!

Sobe aos meus ombros, sobe! E ao tragar-me a voragem,

Ai, lembra-te de mim e de teu pobre pai!»

E o mar a submergiu. Chora a criança e vai

Pouco a pouco a afundar-se. À flor d’água revolta,

Apenas já flutua a trança loura e solta…

Uma fada passou sobre o afrontoso mar;

Viu o cabelo louro, em baixo, a flutuar;

Estende a mão piedosa e, segurando a trança,

Com ela atrai a si a pálida criança.

E, sorrindo, dizia: – «Ai, que pesada que és!»

Mas viu cedo a razão; inda segura aos pés

Do filho estremecido, a pobre mãe começa

A erguer também da onda a húmida cabeça.

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pág. 179 (Capítulo 15)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 179

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432