Uma Família Inglesa - Cap. 16: XVI - No teatro Pág. 186 / 432

É lá de um génio particular aquela pequena; e desde criança que assim a conheço! Que se lhe há-de fazer? Mas agora sobretudo… A rapariga tem o que quer que é a afligi-la. Isso é que tem. Ela bem faz por disfarçar; mas…

Manuel Quintino tomou neste ponto ares de mistério e prosseguiu em tom mais baixo:

– Eu não sei, mas… acho-a outra, há dias para cá. Não lhe tenho querido dizer nada, porque… porque sei como ela é, e tenho medo de mortificá-la ainda mais, porém…

– Mas então – perguntou Jenny, sinceramente atenta ao que Manuel Quintino lhe dizia – o que é que lhe faz julgar?…

– Acho triste a rapariga. Olhos de pai não se enganam com essa pressa. Os outros nada vêem, mas os meus… A Cecília não era assim; quem a viu dantes! Ela ri e graceja ainda, é verdade; mas há ali certo modo, que eu lhe estranho. A menina, que bem a conhece, há-de ter visto…

– Não; não tenho notado mudança nela.

– Não que também… eu lhe digo… Ora deixe-me ver… Ela não voltou a sua casa desde… desde terça-feira, não? É isso mesmo. De então para cá é que eu mais tenho notado.

Jenny escutava com crescente curiosidade o que Manuel Quintino dizia.

– Aí está que hoje… – continuou ele – depois de eu chegar a casa… mas peço-lhe, por amor de Deus, que lhe não vá dizer estas coisas; ela põe-se por lá depois a cismar…

– Fique descansado – disse Jenny, procurando não perder uma só das palavras que ouvia.

– Pois esta tarde… Eu já notara que ela ao jantar não tinha comido quase nada… e eu, a falar verdade, não gosto de ver aquilo. Naquelas idades é que é o comer, e as coisas não correm bem, quando não há apetite. Pois não lhe parece?

Jenny fez um movimento de afirmação, conquanto eu não dê por assentado que ela tivesse sobre o apetite absolutamente as mesmas ideias que Manuel Quintino.





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