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Capítulo 16: XVI - No teatro

Página 188
Whitestone estava distraído; mas não há distracção possível que impeça um inglês de corrigir qualquer inexactidão que, embora leve, toque pela sua nacionalidade; por isso interrompeu imediatamente a narrativa de Manuel Quintino, emendando-a.

– Ho! Não, não. De Espanha! Ho! Da Escócia, da Escócia. In the Lothian county. The bride of Lammermoor, de Sir Walter Scott. É bem conhecido isso.

– Ai, é verdade, é da Escócia, é. Já me não lembrava. Pois este fidalgo, ao que parece, tinha lá umas birras com outro seu vizinho, também muito nobre, é verdade, mas sem nada de seu. Eram rixas velhas e até me parece que uma demanda dos meus pecados! Vai logo o… o S. Pedro e faz com que este tal se enamore da irmã do outro. Que isto acontece muitas vezes.

Nesse ponto foi o pano acima.

Manuel Quintino, depois de exame passado à cena, prosseguiu:

– Estes homens de saias, que aí estão, são os criados do tal fidalgo. Andam à cata do amante, que vinha falar com a rapariga ao jardim.

O argumento exposto por Manuel Quintino prosseguiu por este teor e estilo, sem que Mr. Richard nem Jenny lhe dessem atenção.

Depois da chegada do barítono e durante o recitativo deste, ia Manuel Quintino vertendo em vernáculo as frases italianas que percebia, por conseguinte aquelas que menos precisavam de ser vertidas.

«Mortal nemico» – recitava no palco o barítono. – «Mortal inimigo» – traduzia o velho, do camarote. – «Di mia prosapia» – dizia um. – «Ele mesmo confessa que tem prosápia» – interpretava, e desta vez desastradamente, o outro. – «Io fremo!» – acrescentava daí a pouco tempo o cantor. – «Diz que treme», traduzia Manuel Quintino.

E assim por diante, até que Mr. Richard, ao principiar no palco a ária:

Cruda… funesta smania

pôs termo com ligeiro psiu aos luminosíssimos esclarecimentos do guarda-livros.

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pág. 188 (Capítulo 16)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 188

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432