Uma Família Inglesa - Cap. 16: XVI - No teatro Pág. 189 / 432

Manuel Quintino calou-se logo, prometendo a continuação para o primeiro intervalo.

Antes do fim do acto, deu-se na plateia um incidente vulgar no nosso teatro, e cuja frequente repetição, em certos anos, mantém em perpétua tribulação o espírito dos empresários.

À entrada da prima-dona, e antes dela soltar a primeira nota, romperam de um dos lados da sala alguns sinais de desagrado.

A maioria do público, alheia às altas questões de bastidor, elementos destas súbitas tempestades, estranhou ver assim reprovar quem, dias antes, se aplaudia com frenesi, porventura exagerado.

Manifestou-se portanto reacção, extremaram-se os campos, desenvolvendo-se, de parte a parte, um ardor que, durante alguns minutos, interrompeu o espectáculo.

Na plateia tudo era movimento e confusão; nos camarotes, os homens penduravam-se, para observarem, au vol d’oiseau, a borrasca humana que se lhes desencadeava aos pés, e alguns, menos pacientes, formulavam, lá de cima, acerbas censuras, que se perdiam no espaço; as senhoras quase desmaiavam de assustadas; outras, mais animosas, examinavam a binóculo as peripécias da contenda; a orquestra, deixando de tocar, e erguida em massa, passara a ser espectadora; os cantores cruzavam os braços e imitavam-na; os habitantes das varandas, – porventura os únicos espectadores de boa fé e de amor de arte sem mescla, – urravam de indignados; a autoridade punha-se em pé no camarote e pedia para ser ouvida…

No meio deste tumulto, Mr. Richard dava evidentes sinais de desagrado, traduzidos por muitos hos!, por muitos estalidos de língua, por muito sacudir de cabeça e por pancadas de impaciência com os nós dos dedos no encosto do camarote.

Manuel Quintino, igualmente escandalizado, era mais verboso na expressão da sua indignação.





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