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Capítulo 16: XVI - No teatro

Página 190

Este fartou-se de falar, de ralhar, de gesticular, de censurar as autoridades, de formular projectos absurdos de polícia teatral, e isto tudo quase debruçado no camarote e fitando a massa escura da plateia, cujo alvoroto ia crescendo.

Jenny olhava também na mesma direcção, mas o motivo era outro.

No camarote próximo ouvira falar com severidade dos amotinadores da sala e, entre os nomes mencionados, escutara o do irmão.

Jenny estremeceu, e daí vinha o cuidado com que examinava a plateia.

No entretanto, Manuel Quintino bradava:

– Eu, se fosse à autoridade, mandava todos para o Carmo. Isto é um desaforo. Vem uma pessoa para se divertir, e vai… e vai… e vai…

A hesitação no terminar a frase era devida a ter alguma coisa atraído a atenção do velho para um ponto da sala.

– Oh! oh! – disse ele por fim. – Ora, se ele não havia de estar! Pudera! A festa não se fazia sem ele. Estava de ver!

– Quem? – perguntou Jenny, receando compreendê-lo.

– Lá está também o Carlinhos; pois não vê?

– Onde? Onde? – perguntou logo, com vivacidade, Mr. Richard.

Manuel Quintino sentiu ao mesmo tempo a mão de Jenny a apertar-lhe o braço, como para recomendar-lhe discrição. Antes porém de a sentir, já ele tinha percebido a necessidade de ser prudente.

– Acolá! – e apontou em direcção exactamente oposta ao lugar em que estava Carlos.

– Aonde, homem?… Não o vejo.

– Pois não será ele? Ali, ao pé daquele sujeito de chapéu branco. O Sr. Richard ainda não vê… Admira! Olhe, ele lá vai embora… Olhe agora… Adeus, lá foi.

– Não era ele.

– Era, era… Até me parece que ele me fez sinal de lá, como quem… sim… como quem… estava zangado com este desaforo.

Principiava Manuel Quintino a prejudicar a causa que defendia, levando longe de mais a defesa.

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pág. 190 (Capítulo 16)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 190

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432