Este fartou-se de falar, de ralhar, de gesticular, de censurar as autoridades, de formular projectos absurdos de polícia teatral, e isto tudo quase debruçado no camarote e fitando a massa escura da plateia, cujo alvoroto ia crescendo.
Jenny olhava também na mesma direcção, mas o motivo era outro.
No camarote próximo ouvira falar com severidade dos amotinadores da sala e, entre os nomes mencionados, escutara o do irmão.
Jenny estremeceu, e daí vinha o cuidado com que examinava a plateia.
No entretanto, Manuel Quintino bradava:
– Eu, se fosse à autoridade, mandava todos para o Carmo. Isto é um desaforo. Vem uma pessoa para se divertir, e vai… e vai… e vai…
A hesitação no terminar a frase era devida a ter alguma coisa atraído a atenção do velho para um ponto da sala.
– Oh! oh! – disse ele por fim. – Ora, se ele não havia de estar! Pudera! A festa não se fazia sem ele. Estava de ver!
– Quem? – perguntou Jenny, receando compreendê-lo.
– Lá está também o Carlinhos; pois não vê?
– Onde? Onde? – perguntou logo, com vivacidade, Mr. Richard.
Manuel Quintino sentiu ao mesmo tempo a mão de Jenny a apertar-lhe o braço, como para recomendar-lhe discrição. Antes porém de a sentir, já ele tinha percebido a necessidade de ser prudente.
– Acolá! – e apontou em direcção exactamente oposta ao lugar em que estava Carlos.
– Aonde, homem?… Não o vejo.
– Pois não será ele? Ali, ao pé daquele sujeito de chapéu branco. O Sr. Richard ainda não vê… Admira! Olhe, ele lá vai embora… Olhe agora… Adeus, lá foi.
– Não era ele.
– Era, era… Até me parece que ele me fez sinal de lá, como quem… sim… como quem… estava zangado com este desaforo.
Principiava Manuel Quintino a prejudicar a causa que defendia, levando longe de mais a defesa.