De uma das ocasiões em que, para prosseguir neste exame, procurava limpar os vidros do binóculo, tirou do bolso um pequeno lenço de mulher, com cercadura de renda, para o qual se pôs a olhar admirado.
Depois, segurando-o por uma das pontas, e mostrando-o à irmã, disse, sorrindo:
– Ainda me tinha esquecido isto, Jenny.
– O quê?
– Outra apreensão que fiz, com esperança de por ela obter esclarecimentos, e… que cabeça a minha!… nem já sabia que o tinha em meu poder…
– Mas a que te referes?
– Então esqueceste-te já da minha confidência, no dia do Carnaval?
– Ah! – disse Jenny, olhando imediatamente para Manuel Quintino.
As vistas deste tinham-se fixado também no lenço, e parecia examiná-lo cada vez com mais curiosidade.
– Dá-mo – disse Jenny, estendendo a mão, para recebê-lo.
– Não posso – respondeu Carlos, retirando a sua, a rir.
– Dá-me licença? – disse Manuel Quintino, estendendo também a mão para ele.
– Para o entregar a Jenny depois?
– Não, não é; queria ver…
– Que tem você a ver com este lenço? – perguntou Carlos, dando-lho.
Jenny mostrava-se cada vez mais inquieta.
Manuel Quintino examinava o lenço com atenção.
– É célebre! – dizia ele. – É exactamente um dos lenços que eu dei a minha filha, no dia dos anos dela.
– Como? – perguntou Carlos, olhando para a irmã.
A inquietação de Jenny redobrava.
– Não que é exactamente!… as rendas!… o bordado dos cantos… Só falta… Ah!… mas a marca também!… um C!… Este lenço é de Cecília! Como é possível?!…
Jenny julgou que era tempo de intervir.
– Ora aí temos o Sr. Manuel Quintino embaraçado com uma coisa bem simples – disse ela, rindo. – Esse lenço é de Cecília, é; que dúvida? Deixou-o ela, por esquecimento, há dias… na terça-feira… em minha casa. Este buliçoso tem o costume de levar tudo do meu quarto, sem me consultar e, julgando que era meu…
– Ah! bem me parecia que era o lenço que eu tinha dado a Cecília.