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Capítulo 17: XVII - Contas de Carlos com a consciência

Página 204
a Antónia da Natividade, não procedia de falta de clareza na redacção da frase.

De uma destas fundas abstracções, tão repetidas naquela manhã em Cecília, veio arrancá-la o toque impetuoso da campainha do portal.

A este som Cecília estremeceu e dirigiu os olhos para o relógio da sala, com um gesto de surpresa. Pouco passava de uma hora; não podia ainda ser o pai que voltasse, e raras vezes outra mão que não a dele fazia assim soar a campainha – muito menos àquelas horas do dia.

A estranheza aumentou e quase degenerou em inquietação e susto com a entrada da criada, cuja fisionomia não era de facto, naquele momento, para tranquilizar ninguém.

A venerável matrona trazia estampado no rosto, vigoroso de expressão, o mais completo espanto.

Cecília, vendo-a, ergueu-se de súbito e fez-se pálida, como se já aguardasse uma má notícia.

– Menina!… menina!… – dizia, a custo, a criada, fora de respiração.

– Jesus! que é, Antónia? que é? – perguntou Cecília, batendo-lhe o coração com tal violência, que parecia despedaçar-lhe o peito.

– Ai que ainda não estou em mim! – continuava a outra.

– Diga, mulher! Diga o que é.

– Ora o que há-de ser! Ai!… Não se assuste… Safa!… Eu sempre fiquei!…

– E não diz!

– Digo, digo, menina. Pois por que não havia de dizer? Para isso vim.

– Pois não parece. Não vê o susto em que estou?

– Susto?! Não é caso disso, sossegue… É que… ai, deixe-me, por amor de Deus, respirar…

Cecília ajuntou as mãos com impaciência.

– É um senhor – disse por fim Antónia – um senhor todo asseado e bonito, que quer… Ai! Sempre se me pregaram umas dores de cabeça!

– Que quer o quê, Antónia?

– Que quer falar à menina.

– A mim! Você que diz, mulher? Isso pode lá ser?

– Tanto pode, que ele lá está.

– Lá! Aonde?

– Na sala das visitas.

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 204

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432