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Capítulo 18: XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos

Página 218
O que não conheço por mim, há muito aprendi a conhecer por os outros, e por ti, Charles, principalmente por ti. Eu sei como essas coisas se passam; como o capricho se transforma em ideia fixa, como a ideia arrasta após de si a paixão. Eu sei, Charles; que o tenho visto em ti e sei que Cecília tem imaginação, como a tua, que a pode conduzir a esses extremos; com a diferença de que em ti a paixão transforma-se ainda em esquecimento, e nela… Se te viesse a amar…

– Que grande mal! Amá-la-ia eu também, Jenny.

Jenny desviou a cabeça, procurando exprimir enfado, e tornou-lhe:

– Eu a falar-te ao coração, Charles, e tu a responderes-me com a fantasia! Criança de vinte anos! Quando se te poderá falar a sério? Pois bem; às crianças permite-se-lhes brincar, menos com objectos com que não sabem lidar ainda. Tu ainda não aprendeste a lidar com os afectos e com o coração dos outros, sem perigo para eles. Por isso eu te peço que não continues. Não imaginas o que poderia resultar daí, em que lutas te verias envolvido, se um dia…

– Eu tenho coragem para lutar – disse Carlos, um pouco estouvadamente.

– Guarda-a para quando a luta for inevitável; mas não provoques tu mesmo a experiência, que é sempre dolorosa.

– Não te compreendo.

– Eu só te peço, Charles, que deixes de uma vez esse capricho, que te senhoreia ainda, bem o vejo. Pára, Charles, pára, se queres evitar no futuro o arrependimento tardio; pára, se te queres poupar a remorsos. É a tua irmã que te pede isto, e tu… dizias estimar-me…

– Não faltava senão que o duvidasses agora, Jenny – disse Carlos meio agastado.

– Não duvido, Charles, e tanto que tenho fé em que hás-de saber vencer esse capricho.

Carlos baixou a cabeça e ficou silencioso por algum tempo.

– Não sei, Jenny – disse daí a pouco, levantando-se e passeando no quarto –, não sei até se é só capricho isto.

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pág. 218 (Capítulo 18)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 218

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432