– Que grande mal! Amá-la-ia eu também, Jenny.
Jenny desviou a cabeça, procurando exprimir enfado, e tornou-lhe:
– Eu a falar-te ao coração, Charles, e tu a responderes-me com a fantasia! Criança de vinte anos! Quando se te poderá falar a sério? Pois bem; às crianças permite-se-lhes brincar, menos com objectos com que não sabem lidar ainda. Tu ainda não aprendeste a lidar com os afectos e com o coração dos outros, sem perigo para eles. Por isso eu te peço que não continues. Não imaginas o que poderia resultar daí, em que lutas te verias envolvido, se um dia…
– Eu tenho coragem para lutar – disse Carlos, um pouco estouvadamente.
– Guarda-a para quando a luta for inevitável; mas não provoques tu mesmo a experiência, que é sempre dolorosa.
– Não te compreendo.
– Eu só te peço, Charles, que deixes de uma vez esse capricho, que te senhoreia ainda, bem o vejo. Pára, Charles, pára, se queres evitar no futuro o arrependimento tardio; pára, se te queres poupar a remorsos. É a tua irmã que te pede isto, e tu… dizias estimar-me…
– Não faltava senão que o duvidasses agora, Jenny – disse Carlos meio agastado.
– Não duvido, Charles, e tanto que tenho fé em que hás-de saber vencer esse capricho.
Carlos baixou a cabeça e ficou silencioso por algum tempo.
– Não sei, Jenny – disse daí a pouco, levantando-se e passeando no quarto –, não sei até se é só capricho isto.