Uma Família Inglesa - Cap. 18: XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos Pág. 218 / 432

O que não conheço por mim, há muito aprendi a conhecer por os outros, e por ti, Charles, principalmente por ti. Eu sei como essas coisas se passam; como o capricho se transforma em ideia fixa, como a ideia arrasta após de si a paixão. Eu sei, Charles; que o tenho visto em ti e sei que Cecília tem imaginação, como a tua, que a pode conduzir a esses extremos; com a diferença de que em ti a paixão transforma-se ainda em esquecimento, e nela… Se te viesse a amar…

– Que grande mal! Amá-la-ia eu também, Jenny.

Jenny desviou a cabeça, procurando exprimir enfado, e tornou-lhe:

– Eu a falar-te ao coração, Charles, e tu a responderes-me com a fantasia! Criança de vinte anos! Quando se te poderá falar a sério? Pois bem; às crianças permite-se-lhes brincar, menos com objectos com que não sabem lidar ainda. Tu ainda não aprendeste a lidar com os afectos e com o coração dos outros, sem perigo para eles. Por isso eu te peço que não continues. Não imaginas o que poderia resultar daí, em que lutas te verias envolvido, se um dia…

– Eu tenho coragem para lutar – disse Carlos, um pouco estouvadamente.

– Guarda-a para quando a luta for inevitável; mas não provoques tu mesmo a experiência, que é sempre dolorosa.

– Não te compreendo.

– Eu só te peço, Charles, que deixes de uma vez esse capricho, que te senhoreia ainda, bem o vejo. Pára, Charles, pára, se queres evitar no futuro o arrependimento tardio; pára, se te queres poupar a remorsos. É a tua irmã que te pede isto, e tu… dizias estimar-me…

– Não faltava senão que o duvidasses agora, Jenny – disse Carlos meio agastado.

– Não duvido, Charles, e tanto que tenho fé em que hás-de saber vencer esse capricho.

Carlos baixou a cabeça e ficou silencioso por algum tempo.

– Não sei, Jenny – disse daí a pouco, levantando-se e passeando no quarto –, não sei até se é só capricho isto.





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