– Então já é paixão? – disse Jenny, com olhar malicioso, e pegando outra vez na costura em que trabalhava. – Uma paixão de dois dias! Como cresceu depressa! Vamos, Charles; não sejas criança. Contento-me com que interrogues desapaixonado a tua consciência, e o que ela te disser…
– Ai, não te fies muito na minha consciência, Jenny. Não vês como ela me aconselha?
Jenny fez um gesto de incredulidade, olhando para o irmão.
– Ela? Então foi deveras a consciência que te aconselhou a visita a Cecília? Fala com franqueza.
Carlos não pôde insistir.
Continuou passeando com os olhos fitos no chão.
Afinal parou, e, olhando para a imagem da irmã, que do espelho o fitava, disse, com modo sacudido:
– Vou tentar obedecer-te, Jenny; mas receio…
– Não me fales em receios. Sem fé nada se alcança, incrédulo. Coragem! Ainda há pouco te gabavas de a possuir para as lutas.
– Adeus, Jenny. O que te posso dizer é que se puder desvanecer em mim esta impressão que me causou Cecília… – bem vês que estou falando agora com franqueza – não recearei nunca mais pelo meu coração.
– Recordo-me de já teres dito uma coisa assim… de outra vez.
Carlos ia a responder, mas, como se procurasse fugir a uma conversa que o mortificava, saiu com precipitação do quarto.
Jenny viu-o sair e ficou pensativa.
Momentos depois, entrou Elisa com uma carta.
– De quem vem isso? – perguntou Jenny.
– De casa do Sr. Manuel Quintino.
Jenny conheceu a letra de Cecília. Abriu a carta e leu:
«Minha boa Jenny.
«Contra o que lhe tinha prometido, não me é possível hoje visitá-la. Não me sinto boa e receio ter de me conservar em casa por alguns dias. Meu pai mostra-se inquieto pela minha saúde e, ainda que não seja senão para o tranquilizar, preciso de privar-me do prazer de a ver.