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Capítulo 19: XIX - Agravam-se os sintomas

Página 225

Agora pela primeira vez se sentia acanhado.

Impelia-o o coração a tornar a ver Cecília; saiu no meio da tarde, com esse intento, dirigiu-se para a rua onde ela morava; de longe, ao dobrar a esquina, pareceu-lhe descobri-la à janela. Que fortuna! Não é verdade? Assim parece que deveria reputar o facto. Pois não teve coragem de lhe passar pela porta e, sem ser visto, seguiu caminho diferente. Mas com que má vontade ia contra si próprio!

Daí a pouco assomava de novo à mesma esquina; não estava ninguém à janela; pareceu animar-se com esta observação e caminhou para diante desta vez.

Ia ao mesmo tempo contente e mortificado, por não ver ninguém. Não sei se admitem que uma só causa tenha assim efeitos opostos; fica-lhes livre darem ao facto a interpretação que quiserem; eu limito-me a registá-lo.

Quando ia já próximo da casa, apareceu subitamente alguém à janela. Era Cecília; adivinhou Carlos que era ela, antes de a reconhecer. Com a aparição ficou mortificado e contente; outra vez o mesmo fenómeno paradoxal.

Apressou logo os passos e tomou uns ares de homem atarefado, como se quisesse dar a entender que a sua passagem por ali era puramente casual ou motivada por negócio urgente.

«Incoerência!», dirá um galanteador de profissão. Incoerência, é verdade; e pobre da paixão que não dá para incoerências. Se o rigor silogístico resiste a uma destas comoções do coração, não vale a pena tomá-la a sério.

Ao passar por defronte da janela, Carlos cumprimentou Cecília, timidamente, quase canhestramente, sem lhe sobrar coragem para a fitar e não ousando voltar de novo a cabeça, em todo o resto da rua, que seguiu até o fim.

Interiormente redobrava a impaciência e má vontade contra si próprio. Ele, que sempre se reconheceu arrojado, agora com acanhamento de namorado noviço!

Parou na alameda que ficava ao fim da rua.

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pág. 225 (Capítulo 19)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 225

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432