Uma Família Inglesa - Cap. 19: XIX - Agravam-se os sintomas Pág. 225 / 432

Agora pela primeira vez se sentia acanhado.

Impelia-o o coração a tornar a ver Cecília; saiu no meio da tarde, com esse intento, dirigiu-se para a rua onde ela morava; de longe, ao dobrar a esquina, pareceu-lhe descobri-la à janela. Que fortuna! Não é verdade? Assim parece que deveria reputar o facto. Pois não teve coragem de lhe passar pela porta e, sem ser visto, seguiu caminho diferente. Mas com que má vontade ia contra si próprio!

Daí a pouco assomava de novo à mesma esquina; não estava ninguém à janela; pareceu animar-se com esta observação e caminhou para diante desta vez.

Ia ao mesmo tempo contente e mortificado, por não ver ninguém. Não sei se admitem que uma só causa tenha assim efeitos opostos; fica-lhes livre darem ao facto a interpretação que quiserem; eu limito-me a registá-lo.

Quando ia já próximo da casa, apareceu subitamente alguém à janela. Era Cecília; adivinhou Carlos que era ela, antes de a reconhecer. Com a aparição ficou mortificado e contente; outra vez o mesmo fenómeno paradoxal.

Apressou logo os passos e tomou uns ares de homem atarefado, como se quisesse dar a entender que a sua passagem por ali era puramente casual ou motivada por negócio urgente.

«Incoerência!», dirá um galanteador de profissão. Incoerência, é verdade; e pobre da paixão que não dá para incoerências. Se o rigor silogístico resiste a uma destas comoções do coração, não vale a pena tomá-la a sério.

Ao passar por defronte da janela, Carlos cumprimentou Cecília, timidamente, quase canhestramente, sem lhe sobrar coragem para a fitar e não ousando voltar de novo a cabeça, em todo o resto da rua, que seguiu até o fim.

Interiormente redobrava a impaciência e má vontade contra si próprio. Ele, que sempre se reconheceu arrojado, agora com acanhamento de namorado noviço!

Parou na alameda que ficava ao fim da rua.





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