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Capítulo 19: XIX - Agravam-se os sintomas

Página 229
Ora deixe-me ver se encontro o coveiro, para que nos abra a porta do cemitério.

E, com este intento, dirigiu-se para a sacristia, deixando sem cerimónia Carlos na presença de Cecília.

Precisarei de dizer que este inesperado e involuntário encontro enleou sobremaneira os dois? Fala-se muito dos embaraços de uma primeira entrevista. Não serei eu que os negue; quer-me, porém, parecer que a segunda é ainda mais difícil de sustentar, quando a primeira não foi de todo insignificante.

O que é verdade é que a imaginação de Carlos não lhe sugeriu uma só palavra que dissesse.

Nem sequer falou no tempo! Cecília não foi mais eloquente, fixou os olhos na porta da igreja, por onde desaparecera o pai, e emudeceu.

Nisto uma velha mendiga, destas que nunca faltam à porta das igrejas ao findar a missa, aproximou-se deles, coxeando e gemendo.

– Meu rico senhor – disse ela dolentemente a Carlos – tenha compaixão desta velhinha, que já não o pode ganhar.

Carlos não lhe dava atenção.

A velha insistiu:

– Ora dê, dê, meu fidalgo; e que Nosso Senhor o veja dar.

– Não pode ser – disse distraidamente Carlos.

A velha recorreu a Cecília.

– Minha linda menina, peça-lhe que me dê uma esmolinha, peça; e que Nosso Senhor os faça a ambos felizes, já que tão bem os talhou um para o outro.

Cecília tentou sorrir, mas a confusão obrigou-a a baixar os olhos; Carlos, não menos confuso também com o equívoco da mendiga, tirou do bolso uma moeda de prata e deu-lha, dizendo:

– Aí tem; e vá com Deus, mulher.

Mas a mendiga entendeu que não devia suprimir assim as competentes e difusas fórmulas da sua gratidão.

– Ora Nosso Senhor os faça muito felizes e os deixe viver muito tempo na companhia um do outro, já que tão bem os juntou! Coitadinhos! Eu hei-de rezar muito ao Senhor para que os abençoe e os tenha a ambos na Sua divina guarda.

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 229

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432