– Há muitas espécies de alegria, minha senhora – respondeu Carlos. – Às vezes os sentimentos melancólicos trazem consigo algum prazer também, um prazer suave, íntimo, consolador. Agradeço-lhe ter-me proporcionado um desses prazeres.
E calaram-se.
Manuel Quintino, findas as suas orações, deu-se pressa em sair daquele lugar, ao qual não era afeiçoado.
A dupla qualidade, doce e amarga, da saudade faz com que uns, para quem a primeira predomina, gostem de renová-la; e que outros, que pelo contrário lhe sentem mais o travor do que a doçura, se apressem a fugir-lhe. Manuel Quintino era dos últimos.
Carlos saiu com eles do cemitério. Cecília caminhava adiante. Carlos, com os olhos nela, entretinha com Manuel Quintino aturada conversa sobre os mais diversos assuntos. O velho guarda-livros falava da agricultura, de empresas de comércio, de política pátria, de melhoramentos municipais, parando muitas vezes, no meio da rua, para dar mais força às suas reflexões. Carlos escutava-o com paciência e docilidade, até então sem exemplo, e pelas quais o próprio Manuel Quintino estava maravilhado.
Às vezes, ao chegarem a uma travessa que podia conduzir Carlos mais directamente a casa, o guarda-livros dizia-lhe:
– Agora então vai por aqui?
– Não, eu acompanho-o mais algum tempo – respondia Carlos.
– Não, mas veja lá…
– Não tem dúvida, sigamos.
Só muito próximo já da casa de Manuel Quintino é que este insistiu de tal maneira com Carlos para que não fosse mais adiante, «a não querer fazer-me companhia ao jantar» – acrescentava ele – que, a seu pesar, Carlos condescendeu.
Despediu-se afectuosamente de Manuel Quintino e de Cecília, com olhar um pouco menos tímido já do que os antecedentes, mas do qual ainda se envergonharia qualquer galanteador dos menos arrojados.