Uma Família Inglesa - Cap. 19: XIX - Agravam-se os sintomas Pág. 233 / 432

Carlos rompera completamente com os antigos hábitos de vida. Notava-se-lhe a falta nos cafés, no teatro, nas assembleias, nos grupos dos amigos.

Passava horas e horas no quarto; às vezes, com a cabeça pousada nas mãos, sem ler, sem escrever, sem fazer coisa alguma; outras, ouviam-no os criados passear por muito tempo, fumando charuto após charuto, e enchendo de fumo a atmosfera em que respirava.

Saía, ora a pé, ora a cavalo, mas quase sempre os passeios eram para fora da cidade. Afeiçoara-se subitamente à companhia de um velho inglês, o tipo mais maçador desta colónia portuense, a ponto de ir às vezes esperá-lo ao escritório e acompanhá-lo com paciência admirável até casa – a qual ficava na direcção da de Manuel Quintino.

Se alguma vez sucedia ficar ao pé de Jenny, esta admirava-se da mudança de ideias que se operara nele; se procurava mostrar-se jovial, percebia-se-lhe o esforço para consegui-lo. Tudo isto dava muito que pensar à irmã.

Um dia, Jenny viu-o arremessar de si, com manifesto enfado, um livro que estava lendo.

Olhou e reconheceu um volume das obras de Byron.

– Que é isso?! – perguntou Jenny, sorrindo.

– Que má vontade é essa hoje contra um autor que tanto aprecias?

– Impacienta-me às vezes este poeta lorde, para te falar sinceramente. Há tanta amargura e tanto sarcasmo em algumas destas páginas que, pouco a pouco, nos fazemos maus, depois de uma aturada leitura desses admiráveis poemas. É sublime, mas é desconsolador. Leio-o com a cabeça atordoada, mas com o coração confrangido.

Os instintos da águia são mais altos e heróicos do que os das pombas; mas nós todos queremos as pombas mais perto de casa e não nos consolaria tanto a vizinhança da águia, embora nos excite mais a curiosidade quando, uma ou outra vez, a fitamos.





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