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Capítulo 19: XIX - Agravam-se os sintomas

Página 233

Carlos rompera completamente com os antigos hábitos de vida. Notava-se-lhe a falta nos cafés, no teatro, nas assembleias, nos grupos dos amigos.

Passava horas e horas no quarto; às vezes, com a cabeça pousada nas mãos, sem ler, sem escrever, sem fazer coisa alguma; outras, ouviam-no os criados passear por muito tempo, fumando charuto após charuto, e enchendo de fumo a atmosfera em que respirava.

Saía, ora a pé, ora a cavalo, mas quase sempre os passeios eram para fora da cidade. Afeiçoara-se subitamente à companhia de um velho inglês, o tipo mais maçador desta colónia portuense, a ponto de ir às vezes esperá-lo ao escritório e acompanhá-lo com paciência admirável até casa – a qual ficava na direcção da de Manuel Quintino.

Se alguma vez sucedia ficar ao pé de Jenny, esta admirava-se da mudança de ideias que se operara nele; se procurava mostrar-se jovial, percebia-se-lhe o esforço para consegui-lo. Tudo isto dava muito que pensar à irmã.

Um dia, Jenny viu-o arremessar de si, com manifesto enfado, um livro que estava lendo.

Olhou e reconheceu um volume das obras de Byron.

– Que é isso?! – perguntou Jenny, sorrindo.

– Que má vontade é essa hoje contra um autor que tanto aprecias?

– Impacienta-me às vezes este poeta lorde, para te falar sinceramente. Há tanta amargura e tanto sarcasmo em algumas destas páginas que, pouco a pouco, nos fazemos maus, depois de uma aturada leitura desses admiráveis poemas. É sublime, mas é desconsolador. Leio-o com a cabeça atordoada, mas com o coração confrangido.

Os instintos da águia são mais altos e heróicos do que os das pombas; mas nós todos queremos as pombas mais perto de casa e não nos consolaria tanto a vizinhança da águia, embora nos excite mais a curiosidade quando, uma ou outra vez, a fitamos.

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 233

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432