Jenny, em vez de sorrir a estas reflexões do irmão, tão alheias ao seu modo ordinário de pensar, fitou-o com maior seriedade e, depois de um instante de silêncio, disse-lhe:
– Olha para mim, Charles. – Carlos levantou os olhos para ela. – Dizes isso do coração?
– Digo; porque mo perguntas?
– Por desejar sabê-lo.
E calou-se, abaixando de novo a cabeça para a costura em que trabalhava.
De outra vez, aproximando-se da irmã, que também estava trabalhando, Carlos tirou-lhe da caixa da costura a Bíblia e, abrindo-a ao acaso, leu algum tempo em silêncio. Depois, pousando-a sobre a mesa, disse em tom de gracejo:
– Sempre que recordo estes singelos costumes patriarcais, descritos no Génesis, não posso deixar de pensar nos muitos esforços que o homem parece ter feito para embaraçar, cada vez mais, o caminho da felicidade. Vê tu, Jenny, a simplicidade com que se fez todo este casamento de Isaac e de Rebeca, e compara-a às mil impertinentes dificuldades que, sob o nome de conveniências, hoje é preciso vencer, para se realizar um intento semelhante…
Jenny respondeu-lhe no mesmo tom:
– Que estás a dizer, Charles? Querias tu deveras ver renovados esses costumes? Se, imitando Abraão, o pai mandasse um servo, à terra dos seus avós, procurar mulher para o filho, aceitá-la-ia este rebelde Isaac, embora o servo tivesse, como o da Escritura, pedido e recebido antes de Deus a inspiração que lhe assistiu à escolha?
Carlos pôs-se a rir. Passados momentos, respondeu:
– Mas pelo menos, nesses tempos, os que já se metiam a talhar o futuro dos outros inspiravam-se de boa origem; hoje… a afabilidade da mulher que baixasse o cântaro para matar a sede ao viandante e aos seus camelos não bastaria por certo para mostrar nela a escolha por Deus.