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Capítulo 19: XIX - Agravam-se os sintomas

Página 234

Jenny, em vez de sorrir a estas reflexões do irmão, tão alheias ao seu modo ordinário de pensar, fitou-o com maior seriedade e, depois de um instante de silêncio, disse-lhe:

– Olha para mim, Charles. – Carlos levantou os olhos para ela. – Dizes isso do coração?

– Digo; porque mo perguntas?

– Por desejar sabê-lo.

E calou-se, abaixando de novo a cabeça para a costura em que trabalhava.

De outra vez, aproximando-se da irmã, que também estava trabalhando, Carlos tirou-lhe da caixa da costura a Bíblia e, abrindo-a ao acaso, leu algum tempo em silêncio. Depois, pousando-a sobre a mesa, disse em tom de gracejo:

– Sempre que recordo estes singelos costumes patriarcais, descritos no Génesis, não posso deixar de pensar nos muitos esforços que o homem parece ter feito para embaraçar, cada vez mais, o caminho da felicidade. Vê tu, Jenny, a simplicidade com que se fez todo este casamento de Isaac e de Rebeca, e compara-a às mil impertinentes dificuldades que, sob o nome de conveniências, hoje é preciso vencer, para se realizar um intento semelhante…

Jenny respondeu-lhe no mesmo tom:

– Que estás a dizer, Charles? Querias tu deveras ver renovados esses costumes? Se, imitando Abraão, o pai mandasse um servo, à terra dos seus avós, procurar mulher para o filho, aceitá-la-ia este rebelde Isaac, embora o servo tivesse, como o da Escritura, pedido e recebido antes de Deus a inspiração que lhe assistiu à escolha?

Carlos pôs-se a rir. Passados momentos, respondeu:

– Mas pelo menos, nesses tempos, os que já se metiam a talhar o futuro dos outros inspiravam-se de boa origem; hoje… a afabilidade da mulher que baixasse o cântaro para matar a sede ao viandante e aos seus camelos não bastaria por certo para mostrar nela a escolha por Deus.

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pág. 234 (Capítulo 19)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 234

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432