Cecília sentiu esse efeito, porque chegou logo à janela, com maior ansiedade ainda, dizendo a tremer:
– Que lhe havia de suceder?…
– O Sr. Manuel Quintino – continuava José Fortunato, placidamente sentado à mesa – havia já alguns dias que andava assim não sei como. Eu disse-lhe ainda antes de ontem: – «Homem, é preciso olhar por isso, antes que vá a mais; consulte alguém.» – Mas ele, não, senhor; tinha lá aquele génio.
A escolha do tempo para o verbo era para fazer redobrar os terrores de Cecília. Tinha! Este bom homem de José Fortunato era destas coisas; dir-se-ia que, para ele, Manuel Quintino já não podia merecer as honras do presente de um verbo! Não contente com isto, principiou:
– Estas mudanças de tempo não são nada boas, sobretudo em certas idades. Tem havido por aí muitas moléstias repentinas. Aí está que aquele Gamboa, que era empregado na Câmara, teve ontem um ataque de apoplexia, e foi-se, enquanto o diabo esfrega um olho.
– Jesus! Sr. Fortunato; por quem é, não fale nessas coisas! – exclamou Cecília angustiada. – Se tivesse sucedido alguma desgraça a meu pai, não havia já de ter vindo alguém dizê-lo aqui? Aquilo é porque se demorou…
– Pois eu não digo, menina, que… mas às vezes; olhe que a gente para adoecer basta estar vivo e depois um desastre… Aí está que também o pai tinha um outro mau costume, de que eu também o avisei muitas vezes; ia sempre àqueles vapores ingleses, quando eles entravam, e, apesar de ser homem pesado, porque já não é criança, usava nisso de muito pouca cautela, e às vezes, na atracação… Olhe que é uma coisa perigosa! Para quem não sabe nadar…
As palavras de José Fortunato soavam aos ouvidos de Cecília como um dobre a finados.
– Sr. José Fortunato! – disse ela, quase erguendo as mãos – não vê que com estas palavras me mata? Demais, meu pai não tinha hoje de ir a bordo de vapor algum.