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Capítulo 21: XXI - O que vale uma resolução

Página 251

Cecília sentiu esse efeito, porque chegou logo à janela, com maior ansiedade ainda, dizendo a tremer:

– Que lhe havia de suceder?…

– O Sr. Manuel Quintino – continuava José Fortunato, placidamente sentado à mesa – havia já alguns dias que andava assim não sei como. Eu disse-lhe ainda antes de ontem: – «Homem, é preciso olhar por isso, antes que vá a mais; consulte alguém.» – Mas ele, não, senhor; tinha lá aquele génio.

A escolha do tempo para o verbo era para fazer redobrar os terrores de Cecília. Tinha! Este bom homem de José Fortunato era destas coisas; dir-se-ia que, para ele, Manuel Quintino já não podia merecer as honras do presente de um verbo! Não contente com isto, principiou:

– Estas mudanças de tempo não são nada boas, sobretudo em certas idades. Tem havido por aí muitas moléstias repentinas. Aí está que aquele Gamboa, que era empregado na Câmara, teve ontem um ataque de apoplexia, e foi-se, enquanto o diabo esfrega um olho.

– Jesus! Sr. Fortunato; por quem é, não fale nessas coisas! – exclamou Cecília angustiada. – Se tivesse sucedido alguma desgraça a meu pai, não havia já de ter vindo alguém dizê-lo aqui? Aquilo é porque se demorou…

– Pois eu não digo, menina, que… mas às vezes; olhe que a gente para adoecer basta estar vivo e depois um desastre… Aí está que também o pai tinha um outro mau costume, de que eu também o avisei muitas vezes; ia sempre àqueles vapores ingleses, quando eles entravam, e, apesar de ser homem pesado, porque já não é criança, usava nisso de muito pouca cautela, e às vezes, na atracação… Olhe que é uma coisa perigosa! Para quem não sabe nadar…

As palavras de José Fortunato soavam aos ouvidos de Cecília como um dobre a finados.

– Sr. José Fortunato! – disse ela, quase erguendo as mãos – não vê que com estas palavras me mata? Demais, meu pai não tinha hoje de ir a bordo de vapor algum.

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pág. 251 (Capítulo 21)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 251

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432