Em um dos bancos de pedra pareceu-lhe distinguir o vulto escuro de um homem.
Aproximou-se.
Com sentimento de verdadeira alegria, reconheceu Manuel Quintino.
Cedo porém sucedeu o susto a esta primeira impressão.
O velho estava imóvel e com as feições transtornadas, como se fora cadáver já.
Carlos segurou-lhe o braço, que sacudiu com violência.
– Manuel Quintino! Manuel Quintino! – bradava ele.
Respondeu-lhe um som rouco e inarticulado.
Carlos chamou-o mais alto, outra vez.
Àquela voz conhecida, Manuel Quintino abriu lentamente os olhos e fixou em Carlos a vista esgazeada.
– Que é isto, Manuel Quintino? Que faz aqui? Que tem? Diga: que lhe sucedeu?
Depois de alguns esforços, o velho conseguiu exprimir uma resposta desordenada.
– Eu… eu vinha… não sei o que senti em mim… Quando me disseram da… doença de Cecília… quis correr… e… e faltou-me a vista… e… Eu já não estava bom… O frio… julgo que foi o frio… Por mais que quis ver se me movia… Agora mesmo…
– Sossegue. Sua filha está boa e só com muito cuidado pela sua demora. Veja se pode erguer-se.
– Mas… ali… em baixo… disseram-me…
– Foi uma estúpida graça de uns senhores que, avaliando a delicadeza dos sentimentos dos outros por a dos seus, julgaram dever solenizar o 1.° de Abril daquela maneira cruel.
– Deus lhes perdoe, se foi assim…
– Foi; disseram-mo eles mesmos. Ande, venha. Não faça maiores inquietações em casa do que as que já vão por lá.
– Pobre filha!… Eu vou… mas não sei se…
Manuel Quintino tentou levantar-se, porém vacilaram-lhe os passos e caiu sentado outra vez.
Carlos estava irresoluto; não sabia o partido que tomasse.
– Então, Manuel Quintino, veja se ganha forças. Experimente se pode montar a cavalo.
Novo esforço do velho, sucedido de igual resultado.