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Capítulo 3: III - Na Águia de Ouro

Página 27

– E tingiu-se; sim – disse Carlos –, e feitos todos estes aprestos, caminhou para a entrevista.

– E como se realizava essa entrevista? – perguntou um militar.

– De uma maneira muito singular – prosseguiu Carlos – o conselheiro, todas as noites, depois de pousar na relva o chapéu, a bengala e as luvas, trepava, como um esquilo, pela faia que fica junto da varanda e…

– Ora! Impossível! – exclamaram alguns, rindo.

– Palavra!

– Isso é contra todas as leis da mecânica, aquele bojo… – principiou a dizer um estudante da Universidade.

– Pelo contrário – atalhou outro – é exactamente o bojo que o faz subir. Lembra-te do princípio de Arquimedes. Os aeróstatos…

– A queda do conselheiro seria uma bela experiência para um curso de física…

– Divertida… – anotou uma voz.

– Como exemplificando as leis da queda dos graves… um tão grave personagem – concluiu o primeiro.

Estes sujeitos guindavam o calembour ao supremo grau da escala do espírito.

– Então? deixem falar Carlos; e depois? – disseram alguns curiosos.

Carlos continuou:

– Naquela noite, porém, estava reservada ao conselheiro a mais triste surpresa; ao entrar na espessura da folhagem, deu de cara com o outro.

– Com o Vítor?

– Exactamente, com o Vítor. Imaginem agora vocês o soberbo diálogo que se seguiu ao encontro.

– Devia ser preciosíssimo! Que harmonioso certame de rouxinóis!

– O conselheiro principiou talvez por dizer-lhe:

Tytire, tu patulæ recubans sub tegmine fagi

Formosam resonare doces Amaryllida silvas

– Protesto contra o recubans. A posição de Vítor era menos cómoda.

– Mutatis mutandis, já se sabe.

– Ó padre Manuel, diz-nos como a tua latinidade exprimiria a posição em que estava o Vítor.

– Não interrogues o padre. Não vês que ele está, como os antigos agoureiros, consultando as entranhas das aves? Respeitemos a solenidade do acto.

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pág. 27 (Capítulo 3)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 27

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432