Antónia e José Fortunato eram duas potências aliadas e ciosas das suas prerrogativas e influências para com Manuel Quintino.
– Temos cá o homem! – dissera Antónia a meia voz, ao Sr. Fortunato, quando lhe abriu a porta.
– Quem? – perguntou este, parando nos primeiros degraus da escada.
– O de ontem… O inglês…
– E a que vem ele cá?
– Eu sei. A modo que me não vai agradando isto. Pelos bonitos olhos do pai não é que…
Um negrume toldou o horizonte do coração do Sr. José Fortunato.
Entrou para a sala do serão, o qual se fazia agora no quarto de dormir de Manuel Quintino, visto recomendar-lhe a medicina a prudência de não abandonar o leito.
À habitual saudação do recém-chegado responderam Manuel Quintino e a filha, e, no parecer do homem, alguma coisa mais distraidamente do que do costume.
Não lhe agradou aquela distracção. Carlos fez-lhe um ligeiro sinal de cumprimento e voltou à tarefa em que parecia ocupado.
Procedia-se, naquele momento, à primeira lição comercial.
José Fortunato não podia compreender o que via.
Manuel Quintino, sentado no leito, tinha no rosto a gravidade do professorado, temperada por certo sorriso de dúvida nas boas intenções e na eficácia do estudo do discípulo.
De um lado do leito, sentava-se Carlos Whitestone, partilhando a atenção entre as prelecções de Manuel Quintino e as festas ao gordo gato maltês, que se lhe viera roçar pelas mãos – prova de confiança que nunca dera a José Fortunato, apesar de mais longa convivência.
Havia ainda outro objecto a atrair as atenções de Carlos e porventura a maior ou mais preciosa porção delas – era Cecília.
Em pé, do outro lado da cama, tendo na mão a costura, de que frequentemente se descuidava, seguia com curiosidade as prelecções paternas e as objecções com que as interrompia Carlos, e não podia disfarçar de todo o riso que a singular lição lhe desafiava.