A chegada de José Fortunato não alterou esta disposição de coisas e de pessoas; não era ele homem para constranger ninguém.
– Ora vamos a isto – começou Manuel Quintino –; para lhe falar verdade, não sei bem por onde principie.
– Eu lhe digo… – ia Carlos a responder, quando Manuel Quintino o interrompeu.
– Então, então! Não principie já a atrapalhar, senão não temos nada feito. Ora espere lá… Deixe-me cá ver…
E, depois de pensar algum tempo, continuou:
– Usam-se no comércio três livros principais…
Este começar ab ovo não agradou ao discípulo, que o atalhou dizendo:
– Já sei.
– Já sabe! Como já sabe?
– Pois nem isso havia de saber?! Creia que esta manhã, no escritório, levei a minha instrução comercial ainda muito mais longe.
– Ora adeus!
– Verá.
– Então, se já sabe, escuso eu de…
– Sei que há três livros principais em comércio, que se chamam: Diário, Razão e Caixa, e que há também os auxiliares.
Manuel Quintino estava deveras admirado de Carlos saber tanta coisa!
– O pai de que se admira? Eu mesma, parece-me que sabia isso também – disse Cecília.
Manuel Quintino olhou para ela e encolheu os ombros.
– Com que gente eu estou metido! Bem – acrescentou pouco depois para Carlos –; então faça favor de me dizer o que é que não sabe, para eu lhe ensinar.
– Olhe: eu o que desejo é obter esclarecimentos, em relação a certos pontos, sobre que tenho dúvidas. O processo da escrita afinal não é coisa tão complicada que não se possa compreender, examinando-a com atenção; muito mais se, conseguindo despertar a memória, alguma coisa ela nos vem também auxiliar. Só me parece que esse processo ainda podia ser mais simples do que o fazem.
– Não podia, não, senhor. Não venha agora para cá com modernices. Tudo é preciso.